Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Em uma carta divulgada no site do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e atribuída à lideranças indígenas munduruku, xipaya, kayapó, arara e tupinambá, o grupo que desde a madrugada de ontem (27) ocupa um dos canteiros de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, diz estar cansado de “esperar e chamar” representantes do governo federal para negociar.
“O governo disse que se nós saíssemos do canteiro, nós seríamos ouvidos. Nós saímos pacificamente e evitamos que vocês passassem muita vergonha nos tirando à força daqui. Mesmo assim, nós não fomos atendidos. O governo não nos recebeu”, declaram os autores do texto, se referindo à ocupação do canteiro Sítio Belo Monte, no início do mês.
“Queremos a suspensão dos estudos e da construção das barragens que inundam os nossos territórios, que cortam a floresta no meio, que matam os peixes e espantam os animais, que abrem o rio e a terra para a mineração devoradora. Que trazem mais empresas, mais madeireiros, mais conflitos, mais prostituição, mais drogas, mais doenças, mais violência”, menciona o documento. “Exigimos sermos consultados previamente sobre essas construções, porque é um direito nosso garantido pela Constituição e por tratados internacionais. Isso não foi feito aqui em Belo Monte, não foi feito em Teles Pires e não está sendo feito no Tapajós”.
O principal objetivo dos índios é a suspensão de todos os empreendimentos hidrelétricos na Amazônia até que o processo de consulta prévia aos povos tradicionais, previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seja regulamentado.
Divulgada antes do anúncio da Justiça Federal, que, esta tarde, concedeu um prazo de 24 horas para que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a União providenciem a saída pacífica e voluntária do grupo de índios do canteiro de obras, o texto cobra que o governo federal não envie a Força Nacional para “negociar”.
“Queremos que a [presidenta] Dilma [Rousseff] venha falar conosco […] Ocupamos de novo o seu canteiro. Quantas vezes será preciso fazermos isso até que a sua própria lei seja cumprida?”, questionam os autores do texto. Desde ontem a Agência Brasil tenta, sem sucesso, contactar, por telefone, lideranças mundurukus que, segundo informações de representantes da etnia, estão no canteiro, com o grupo de manifestantes.
Edição: Fábio Massalli
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