Comissão da Verdade do Rio vai investigar mortes de Anísio Teixeira, Stuart Angel e Rubens Paiva

17/04/2013 - 21h02

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A Comissão Estadual da Verdade (CEV) fez hoje (17) sua primeira reunião em que definiu a sua linha de trabalho. De acordo com o presidente da comissão fluminense, Wadih Damous, quatro temas serão abordados: mortos e desaparecidos, mecanismos de repressão, casas clandestinas de tortura e casos emblemáticos.

“Primeiramente, o item mortos e desaparecidos, que aliás é a razão de ser de qualquer comissão da verdade, no sentido de dar satisfação à sociedade, aos parentes, sobre o que aconteceu com essas pessoas. Se foram mortas, onde foram enterradas? Se foram torturadas, quem as torturou? Se foram assassinadas, quem as assassinou?”.

Entre os principais casos a serem tratados estão o da Casa da Morte, aparelho clandestino de tortura em Petrópolis, e as mortes do engenheiro e político Rubens Paiva, do militante Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, e do educador Anísio Teixeira.

O secretário de Educação, Ciência e Tecnologia de Niterói, Waldeck Carneiro, protocolou no início da reunião um pedido para que se priorize a investigação da morte de Anísio Teixeira, ocorrida em 1971 e ainda sem explicação.

“Ele foi um dos maiores educadores da história nacional, que morreu sob condições e circunstâncias inexplicadas até hoje, misteriosas, obscuras. O governo da ditadura, naquela ocasião, jamais permitiu que se apurasse as circunstâncias da morte, apesar dos apelos da família, das universidades brasileiras, do movimento dos educadores. Agora que a gente tem no Rio de Janeiro a possibilidade da instalação da Comissão Estadual da Verdade, a gente considera muito importante, tendo em vista que essa morte aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, na Praia de Botafogo”, disse.

Outro caso a ser investigado pela CEV é o da carta-bomba enviada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 1980, que matou a secretária do presidente da entidade na época, dona Lyda Monteiro. Ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, informou que a CVE vai ser instalada na sede da entidade e seu gabinete vai funcionar na mesma sala onde ocorreu a explosão.

“Nós decidimos instalar a comissão aqui também pelo caráter simbólico, de toda a luta que a OAB teve na reconquista da democracia brasileira, tudo o que significou aquele atentado. Então nós somos uma entidade, também, vítima. Muitos advogados foram vítimas, mas a própria entidade foi vítima de um atentado terrorista cometido pela ditadura militar”, declarou.

A Comissão Estadual da Verdade será oficialmente empossada no dia 8 de maio e tem prazo de funcionamento de dois anos, mas a divisão dos grupos de trabalho e a montagem das assessorias para as investigações começaram hoje. As reuniões irão ocorrer sempre às quartas-feiras. Damous ressaltou que haverá a maior transparência possível nos trabalhos da comissão.

“Vamos nos valer de uma forma bastante permanente das audiências públicas, audiências com parentes, com vítimas. No estado do Rio de Janeiro foi onde ocorreu o maior número de mortos e desaparecimentos, um total de 111, levantamento feito pela Comissão Especial de Mortos e Desparecidos do governo federal”, disse.

A Comissão da Verdade do Rio vai trabalhar em conjunto com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), fazendo investigações complementares ou a pedido da própria CNV.

 

Edição: Aécio Amado

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