Pinturas italianas do período entre guerras são expostas em São Paulo

31/03/2013 - 13h22

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – As 71 pinturas italianas adquiridas por Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo, e sua esposa Yolanda Penteado, entre os anos de 1946 e 1947, para compor o antigo Museu de Arte Moderna (MAM) paulista, serão apresentadas em uma exposição no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A mostra Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no entre Guerras foi aberta na última quinta-feira (28) e deve permanecer em cartaz até o final do ano.

Além das 71 pinturas, a exposição apresenta dez obras de artistas brasileiros que mantinham relação com o ambiente artístico italiano entre guerras. A curadoria da exposição é de Ana Gonçalves Magalhães, do MAC-USP. “A exposição é o primeiro resultado de uma pesquisa acadêmica que venho desenvolvendo no acervo do MAC-USP desde 2008 com o núcleo inicial da coleção modernista do museu herdado do antigo MAM. A pesquisa enfoca, sobretudo, as coleções de Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado”, disse.

A exposição mostra um panorama da arte moderna italiana entre os anos de 1920 e 1946, período no qual predominava a arte figurativa e a baseada no realismo. Entre as pinturas em exposição, há obras de Mario Sironi, Massimo Campligi, Fausto Pirandello e Giorgio De Chirico, entre outros. “Há um aspecto comum nessas obras. Quando se olha a coleção de pinturas, ela parece uma coleção mais convencional, de pinturas figurativas, com recorrência no gênero da paisagem e da natureza-morta e do retrato. Ela não parecia uma coleção vanguardista, de arte moderna. Ela reflete o debate artístico em torno do modernismo dos anos 1930, não só da Itália, mas da Europa de maneira geral e também do Brasil”, explicou.

Segundo Ana, a arte moderna na Itália entre guerras caracterizou um fenômeno conhecido na história da arte como “retorno à ordem”. “O retorno à ordem significava, grosso modo, o abandono dessa prática e desse uso da linguagem vanguardista da arte - no caso o cubismo e o futurismo - e a retomada de uma pintura figurativa de caráter realista. Quando intitulo a mostra Classicismo, Realismo e Vanguarda é porque, junto a essa ideia de realismo, os artistas, assim como outros artistas na França, na Alemanha, na Inglaterra e na Espanha, vão retomar o estudo do Renascimento e da tradição da pintura do renascimento para poder reinterpretar o modernismo. Essa pintura de caráter realista tem esse desdobramento que é o de tentar trabalhar e rever alguns artistas importantes, sobretudo do século 15 italiano, para pensar numa nova proposição da pintura”, explicou.

A arte moderna italiana desse período acabou sendo promovida pelo regime fascista por meio da constituição de um sistema de arte, envolvendo galeristas, exposições, instituições e coleções privadas. “Muitas obras são procedentes de coleções privadas italianas que estiveram em exposições oficiais durante o fascismo. A partir da segunda metade da década de 1930, havia na Itália apoio à formação de coleções de arte moderna italiana em um espírito que, eu diria, parecer um modernismo mais convencional. Tem obras da nossa coleção que vem desse universo e que refletem a política pública italiana da segunda metade dos anos 1930 e que estava presente em mostras que o regime promoveu”, disse a curadora. Mas essa promoção pelo regime fascista, acrescentou Ana, não significa dizer que as obras sejam políticas. “Não significa que você tem, no conjunto uma representação explícita da política fascista. Pelo contrário: tem representações que são muito abstratas e distantes dessa ideia”, ressaltou.

 

Edição: Beto Coura

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