Escola do DF segue modelo de inclusão adotado pelo país

21/03/2013 - 10h18

Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Lucas está no 2º ano do ensino fundamental e estuda na Escola Classe da 308 Sul, em Brasília. Aluno dedicado, faz questão de acompanhar no livro didático o que é ensinado pela professora. Ele é o segundo aluno com síndrome de Down matriculado na instituição há pelo menos dez anos.

Tombada pelo Distrito Federal desde 1988, atualmente a escola atende a cerca de 300 estudantes, dos quais dez são diagnosticados com alguma condição especial ou com deficiência física. No Dia Internacional da Síndrome de Down, a Agência Brasil visita a escola, localizada na zona central da cidade e bastante procurada por pais de crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

A escola segue o modelo de inclusão adotado pelo país. A Política Nacional de Educação Especial, lançada pelo Ministério da Educação em 2008, prevê que escolas públicas e privadas garantam o acesso e a permanência de estudantes com necessidades especiais e articulem o ensino regular e a educação especial. Segundo o Censo Escolar, em 2011 foram matriculados 558,4 mil alunos com necessidades educacionais especiais em classes comuns no Brasil. Há dez anos, esse número não chegava a 150 mil.

“Dentro da sala de aula, a gente percebe como é boa essa interação. Os alunos com síndrome de Down copiam os demais e aprendem também com eles. E vice-versa. Eu também aprendo muito com esses estudantes”, diz a professora de Lucas, Telma Borges. Esse é o primeiro ano em que ela trabalha com estudantes com essa condição. “Eles fazem parte da turma. Se algum dos dois faz algo errado, eu chamo a atenção. Algumas atividades são [adaptadas] para eles, devido a algumas dificuldades na fala ou mesmo motora, que têm. Mas isso não impede que participem”.

Lucas foi diagnosticado com a síndrome depois do nascimento – hoje é possível que isso seja feito ainda durante a gestação. A mãe, Cléo Gomes, desconhecia a condição. “Para mim, não fez diferença, mas uma médica no hospital me disse que eu ia ter muito trabalho, [botou] muita coisa na minha cabeça”, lembra. “Com o tempo, eu e meu marido vimos que não era assim. A vida seguiu normal, como segue até hoje. Ele sempre estudou em escolas regulares e nunca teve nenhum problema”.

Para atender aos estudantes, a escola dispõe de um acompanhamento individual duas vezes por semana. A responsável é a professora Joana D'Arc Bezerra. Ela trabalha com cores, nomes, usa jogos de computador, dança e outras atividades lúdicas para estimular os alunos. “Cada um é um universo, uma necessidade”, diz. Para atender a essas necessidades, a professora diz que faltam monitores na instituição. Apenas uma monitora atende os dez alunos com algum tipo de necessidade especial fora de sala de aula. Dentro das salas, um único professor ministra a turma. “O que é insuficiente”, diz.

Documento do Ministério da Educação define que “cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras [a Língua Brasileira de Sinais, para surdos] e guia intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar.” E que cabe a eles “a adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros.”

Lucas fez questão de pegar o mesmo livro dos demais. A professora conta que, no dia que distribuiu o material didático, emprestou o próprio livro para que ele acompanhasse. Ele percebeu que o livro estava preenchido e exigiu um próprio. “Eu pedi à coordenação e demos o livro a ele. Algumas instituições não fazem isso, porque esses alunos às vezes se recusam a usar o material”, conta a professora Telma.

No final da aula, que a Agência Brasil acompanhou, pouco antes de deixar a sala, Lucas cochichou no ouvido de um colega algo que o fez rir. Lucas riu também. Na porta, Cléo o esperava. Lucas a viu e correu para abraçá-la. “Ele é um amor, mudou tudo na minha vida”, diz a mãe orgulhosa.

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Edição: Tereza Barbosa

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