Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A advogada Camila Oliveira perdeu as contas das vezes em que chegou do trabalho, depois de jornadas de mais de 12 horas, e se viu obrigada a subir quatro andares duplos de escadas para chegar ao seu apartamento. A falta de luz onde mora, Águas Claras – uma das mais novas regiões administrativas do Distrito Federal - é uma constante.
Camila lembra que, muitas vezes, chegava cheia de sacolas de compras e não tinha alternativa a não ser enfrentar os lances de escada. “Você tem que subir não é? E, muitas vezes, nem a luz de emergência funcionava direito. A gente usa a luz do celular para iluminar os degraus”.
Segundo ela, o dia do aniversário de 14 anos de seu filho mais velho foi “o mais dramático” entre os episódios frequentes de interrupção do fornecimento de energia, “quase sempre” sem explicações pela empresa responsável pelo serviço. “Tínhamos organizado tudo lá em casa. Compramos bolo e todo o resto e, de repente, a energia acaba. Ficamos das 19h às 5h do dia seguinte no escuro. Acabou com nossa festa”.
Apesar de enfrentar o problema com regularidade, a advogada disse que nunca perdeu equipamentos eletrônicos. “Mas e as pequenas perdas? Para quem reclamamos? Outro dia foi a lâmpada da cozinha que queimou. Tem ainda os alimentos na geladeira”.
O problema de fornecimento de energia na região que sedia a capital do país, Brasília, não se limita apenas a uma localidade. Moradores de várias cidades do entorno sofrem, com frequência, com os conhecidos piques ou cortes de luz que, em muitos locais, duram horas. As falhas tornam-se ainda mais frequentes nos períodos de chuva, quando, muitas vezes, o problema é agravado pela queda de árvores que podem afetar a rede.
A Companhia Energética de Brasília (CEB), única responsável pelo serviço na capital, tem uma justificativa para a persistência das falhas: uma trajetória de investimentos tímidos que marcou a última década da empresa. “A empresa passou por um período de quase dez anos com investimento aquém do necessário para o crescimento da rede, enquanto o mercado consumidor crescia a uma média de 7% ao ano [a média de crescimento nacional é cerca de 4% ao ano]”, explicou Manuel Clementino, diretor de Operações da CEB.
Segundo Clementino, nesse período os gastos com melhorias da rede giravam em torno dos R$ 30 milhões anuais, enquanto o investimento ideal é estimado em R$ 90 milhões por ano. “Foi um período longo com margem de investimento pequeno e a rede foi ficando envelhecida, trabalhando com sobrecarga, acima da capacidade. Foi o cenário que herdamos em 2011. Hoje, temos muitos problemas porque temos que recuperar, em dois anos, um período de dez”.
O diretor da empresa garante que muitas obras serão entregues no segundo semestre de 2013, quando a população, segundo ele, vai sentir mais nitidamente a melhoria da qualidade do serviço. “Os dados de 2012 mostram o maior investimento feito pela companhia na história da cidade: foram R$ 150 milhões. Entre 2011 e 2012, investimos um total de R$ 240 milhões em várias localidades do DF”.
A previsão da CEB é que, ao longo de 2013, sejam investidos mais R$ 200 milhões em melhorias como construção de subestações, redes de média tensão, substituição de equipamentos antigos e modernização na rede. Os custos com manutenção não estão incluídos na conta. “Temos a previsão de investir R$ 30 milhões apenas para manutenção, que eventualmente pode incluir troca de um equipamento defeituoso ou com indícios de [apresentar] problemas a curto prazo”.
Enquanto os benefícios das obras não chegam à população, famílias como a da bancária Clara Souza, que mora em um condomínio em Sobradinho, a 40 minutos do centro de Brasília, permanecem na incerteza de chegar do trabalho, em dias de chuva, e contar com energia em casa, mesmo pagando uma conta de R$ 170 por mês.
“As interrupções de energia realmente diminuíram nos períodos secos, mas quando chove passamos vários dias seguidos com falhas de uma a duas horas de duração. Muitas vezes, só fico sabendo que está faltando luz quando chego ao condomínio, por volta das 19h. Já chegamos a ficar sem energia até a 1h da manhã, repetidas vezes”.
Além do transtorno que se transformou em rotina, Clara ainda reclama do atendimento da companhia. “O atendimento é muito ruim, o serviço é praticamente todo feito em gravação e, quando temos qualquer problema de falta de fornecimento de energia, é muito difícil descobrir qual o motivo ou se há alguma previsão de regularização”.
Edição: Tereza Barbosa
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