Planaltina: a cidade que luta para manter a história viva

09/03/2013 - 13h38

Marcelo Brandão
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Pensar na capital federal já remete ao traço contemporâneo e à arquitetura arrojada. Mas ela não carrega somente a história moderna. Muitos não sabem, ou esquecem, uma peculiar característica da capital do país - a de estar entrelaçada a uma história mais que centenária, mesmo completando 53 anos em 2013. É a cidade de Planaltina, a 40 quilômetros do centro de Brasília.

Alguns calculam que a cidade tem mais de 200 anos (não existem documentos que precisem a data de fundação), foi inicialmente batizada como Mestre d'Armas, em homenagem a um ferreiro residente na região, especialista no manejo e conserto de armas. Foi em Mestre D'armas que uma epidemia se abateu sobre a população. Os moradores buscaram, então, a cura pela fé. Com a graça alcançada, cumpriram a promessa e, no início do século 19, construíram uma pequena capela em homenagem a São Sebastião. Em 1870, a capela ganhou uma construção definitiva.

Passados 22 anos, um grupo de exploradores chegou ao local. A Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada pelo astrônomo belga Luís Cruls, havia sido enviada pelo presidente Floriano Peixoto. Conhecida como Missão Cruls, os 22 homens cumpriram ali o trabalho de demarcar o local da nova capital do país. Esse fato mudaria para sempre o destino daquele lugar.

Hoje, a Igreja de São Sebastião contempla uma cidade diferente ao seu redor. O Distrito de Mestre D'armas mudou de nome e cresceu além das fronteiras. Da expansão desordenada, nasceu a pobreza, desigualdade social e violência. Mas aquele local, hoje o Centro Histórico de Planaltina, se mantém sereno e aprazível. Sentadas na praça, à sombra das árvores, pessoas conversam enquanto observam o suave vaivém das bicicletas e ouvem o arrastar das folhas secas levadas pelo vento. Mesmo após tanto tempo, o local continua contando muitas histórias. “A maior virtude daqui é esse clima bucólico. Para mim, ficar na pracinha do museu contemplando os casarões é parar no tempo. Sou privilegiada por morar aqui, à beira do Rio Mestre D'armas”, conta Simone Macedo, fundadora da associação Amigos do Centro Histórico.

Vizinha da igreja, Simone viu as pesadas paredes de taipa de pilão resistirem aos anos, cada vez menos firmes. Após apelo da população, o governo do Distrito Federal (DF) iniciou uma grande obra de restauração da igreja, tombada pelo patrimônio histórico do DF em 1982. Outras construções, no entanto, ainda estão ameaçadas pela ação do tempo. Simone faz um apelo às autoridades para que esses patrimônios não se percam. “Hoje, o maior desafio é manter o que temos, os bens tombados da cidade. Gostaríamos que o Estado ajudasse de alguma forma os donos de casas históricas a fazer os restauros necessários”.

Planaltina luta para manter sua história viva. Para que assim, todos possam ver, tocar e acreditar na matemática impossível que faz 200 anos caberem em 53.

Edição: Carolina Pimentel

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