Perícia conclui que tiro que matou adolescente indígena não foi disparado à queima-roupa

28/02/2013 - 19h54

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília – Um laudo necroscópico realizado pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) de Dourados (MS) indica que o tiro que matou o adolescente guarani-kaiowá, Denilson Barbosa, de 15 anos, não foi disparado à curta distância. De acordo com o laudo, diferentemente do que chegou a ser divulgado inicialmente, o jovem recebeu um único tiro.

Segundo a delegada responsável pelo caso, Magali Leite Cordeiro, o fato de o médico-legista não ter encontrado marcas de pólvora em volta da lesão causada pelo projétil reforça a versão do fazendeiro Orlandino Gonçalves Carneiro, 61 anos. Ainda assim, ela disse que as versões dos índios que acompanhavam o adolescente e a do fazendeiro coincidem em "80%" dos pontos.

Carneiro se apresentou à Polícia Civil no último dia 19 e confessou ser o autor dos disparos que atingiram o adolescente. Ele garantiu, contudo, que não tinha a intenção de matar ninguém e que atirou, sem mirar, na direção do criadouro de peixes existente em sua fazenda, onde ele disse ter avistado alguém, alertado pelos latidos dos cães.

A versão dos dois índios que acompanhavam Denilson é outra. Segundo o irmão da vítima, de 11 anos, e o cunhado do adolescente morto, os três entraram na Fazenda Sardinha com o propósito de ir pescar em um córrego cuja nascente fica no interior da terra indígena onde vivem, em Caarapó (MS), a cerca de 50 quilômetros de Dourados (MS). Quando passavam próximo ao viveiro de peixes, foram abordados por três homens armados que dispararam contra eles. Na fuga, Denilson ficou preso em uma cerca de arame farpado, foi alcançado pelos pistoleiros e agredido. Os dois jovens repetiram essa versão durante o depoimento que prestaram à delegada no último dia 20.

O crime aconteceu no início da noite de sábado (16). O corpo do adolescente, no entanto, só foi encontrado no domingo (17), jogado em uma estrada que separa a aldeia guarani-kaiowá tey´ikue, onde Denilson morava, de fazendas existentes na cidade de Caarapó, entre elas a Fazenda Sardinha, de Carneiro.

O fazendeiro contou à delegada que quando encontrou Denilson caído próximo ao criadouro de peixes ele ainda estava vivo. Carneiro disse que pôs o corpo do indígena na caçamba de sua caminhonete com a intenção de levá-lo ao hospital de Caarapó. Ao chegar próximo ao acesso à estrada para a cidade, contudo, avistou uma aglomeração que imaginou ser de índios à procura do jovem. Com medo de ser agredido, ele fez meia volta e deixou o jovem ferido à margem da estrada, supostamente no mesmo local onde o corpo foi encontrado na manhã seguinte. A Agência Brasil tentou falar com a advogada de Gonçalves, mas não conseguiu localizá-la.

De acordo com a delegada, o irmão e o cunhado de Denilson foram incluídos em programa de proteção da Secretaria de Direitos Humanos (SDH). A delegada disse que as investigações estão bastante avançadas. Ela agora aguarda o laudo pericial feito pelo Instituto de Criminalística no local do crime para concluir o inquérito policial e planeja apresentar às duas testemunhas fotos de pessoas que viviam ou trabalhavam na propriedade, a fim de checar se elas apontam a participação de alguém mais no crime. Para isso, no entanto, ela depende da autorização da SDH.

Edição: Tereza Barbosa

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