MPF no Pará vai apurar se ONG contrária à construção de Belo Monte foi espionada

26/02/2013 - 21h13

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Ministério Público Federal no Pará (MPF) irá apurar denúncia apresentada pela organização não governamental (ONG) Movimento Xingu Vivo para Sempre. Na representação, o movimento informa ter descoberto um homem que se infiltrou nas reuniões do grupo a pedido do Consórcio Construtor Belo Monte.

O homem foi flagrado filmando e fotografando as reuniões de planejamento estratégico, segundo lideranças da ONG, que reúne movimentos sociais e ambientalistas contrários à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, próximo a cidade de Altamira (PA). O suposto esquema de espionagem foi detectado no último domingo (24) e denunciado ontem (25) ao MPF em Altamira, que vai conduzir a apuração, sob a responsabilidade da procuradora da República Meliza Alves Barbosa, segundo o próprio ministério.

De acordo com o Xingu Vivo, o homem mora na cidade há 29 anos e conhece a família da coordenadora da entidade, Antônia Melo da Silva, fato que favoreceu a entrada dele no movimento. No entanto, o comportamento dele chamou a atenção de alguns participantes. Eles notaram que, na última reunião, embora sempre tivesse uma caneta em mãos, o novo integrante não fazia anotações, limitando-se a apontar a caneta para quem discutia ações planejadas pelo movimento.

O Xingu Vivo descobriu que a caneta tratava-se de uma microcâmera disfarçada, objeto usado para espionagem e que pode ser comprado pela internet ou em lojas de artigos eletrônicos. A ONG encontrou vídeos e áudios com trechos das discussões de planejamento do movimento. O equipamento e os arquivos gravados foram entregues ao MPF. O movimento também disse ter feito fotos do crachá e da carteira profissional do homem, que disse ter trabalhado como vigilante nos canteiros de obra, como indicação de que prestava serviços para o consórcio.

Depois de ser flagrado, conforme o Xingu Vivo, o homem se dispôs a falar e contou ao advogado do movimento, Marco Apolo Santana Leão, ter sido contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte. O movimento gravou o depoimento. No vídeo gravado, editado e disponibilizado na internet pela organização, o homem diz ter sido procurado por um segurança do consórcio.

“Ele [o segurança] chegou e falou que tinha uma proposta de emprego. Que queria me oferecer R$ 3,1 mil para eu fazer o trabalho de investigação do Xingu Vivo; repassar as informações para o consórcio para o caso de ter alguma invasão ou qualquer outra coisa a empresa se precaver e fazer a segurança do sítio [canteiro de obras]”, diz. O rosto do homem não é mostrado no vídeo. Em um momento do vídeo, ele diz se chamar Antônio Carlos.

Desempregado, Carlos diz ter aceitado a proposta por R$ 5 mil por mês, valor depositado em um banco. Iniciado em dezembro de 2012, o serviço incluiria também espionar os funcionários nos canteiros de obras. No depoimento em vídeo, ele disse que um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) iria procurá-lo dentro de alguns dias para assistir às gravações feitas.

Conforme o Xingu Vivo, após a gravação do depoimento, o suposto agente recuou e comunicou que não se apresentaria ao MPF para repetir sua versão dos fatos. Depois, enviou uma mensagem de texto a um integrante da ONG alegando que eles o teriam ameaçado e que iria processar o movimento. Diante disso, o Xingu Vivo decidiu divulgar o vídeo na internet.

Procurado, o Consórcio Construtor Belo Monte informou, por meio da assessoria, que não foi oficialmente notificado da denúncia, razão pela qual não se pronunciará. A empresa disse estar esperando ser notificada para tomar as providências necessárias e disse não ser prática do consórcio enviar observadores a eventos promovidos por outros órgãos ou instituições.

A assessoria da Abin informou que a agência não comentará o assunto. A Agência Brasil procurou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, ao qual a Abin está vinculada. Também não houve manifestação por parte do GSI.

Edição: Carolina Pimentel

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