Sindicatos convocam marcha contra congelamento de preços na Argentina

07/02/2013 - 9h53

Monica Yanakiew
Correspondente da EBC

Buenos Aires – As duas principais centrais sindicais argentinas, ambas de oposição, convocaram dois protestos para os dias 8 e 14 de março, com o objetivo de pedir mais planos de ajuda social e o direito de negociar aumentos salariais “sem teto”. A decisão da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) foi anunciada na mesma semana em que o governo fecha acordos de congelamento de preços, por dois meses, com as principais redes de supermercados e de lojas de eletrodomésticos e eletrônicos. 

Nessa quarta-feira (6), os supermercados chineses – que são menores, mas cada vez mais numerosos – anunciaram adesão à proposta do secretário do Interior, Guillermo Moreno, de manter os preços fixos até abril. Existem 10 mil supermercados chineses em toda a Argentina e eles têm até cartão de crédito próprio para competir com as grandes cadeias. O congelamento de preços temporário é voluntário, mas quem não aderir corre o risco de perder fatias do mercado.

A subsecretária de Defesa do Consumidor, Maria Lucila Colombo, recomendou aos consumidores argentinos que guardem os comprovantes de compras e denunciem aumentos abusivos. Segundo ela, o congelamento temporário de preços foi proposto para ajudar a “economia familiar”, mas, segundo os sindicalistas, trata-se de medida para camuflar a inflação real e limitar os reajustes salariais.

“Com o congelamento de preços, por 60 dias, o governo tem a intenção de colocar um teto aos pedidos de aumento salarial e isso nós vamos rejeitar”, disse o líder da CGT, Hugo Moyano. A partir de maio, o sindicalista – que até recentemente era um dos principais aliados do governo – ia começar a negociar aumentos salariais de 30% (três vezes mais que a inflação oficial).

Na Argentina, os reajustes salariais são decididos nas chamadas “paritárias” - acordos negociados entre trabalhadores e empresários que precisam ser ratificados pelo Ministério do Trabalho. Apesar de a inflação oficial não chegar a 10% ao ano, o governo tem concedido aumentos superiores. “Ao fazer isso está, de certa forma, reconhecendo que a inflação real é maior que a oficial”, disse à Agência Brasil o ex-ministro da Economia (de Néstor e Cristina Kirchner), Roberto Lavagna. Mas, este ano, o governo não quer conceder aumentos superiores a 20% e os sindicatos, baseando-se no que chamam “índice do supermercado”, pediam mais.

O congelamento de preços temporário também coincide com a volta às aulas, no fim de fevereiro. É o momento em que as famílias argentinas mais sentem o peso da inflação: terminadas as férias, é hora de fazer matrícula e comprar material escolar. “Mudei minha filha de creche porque, no ano passado, a mensalidade praticamente duplicou e as vagas no sistema público, além de escassas, são difíceis de conseguir. Tive que colocá-la em uma creche privada para poder trabalhar”, disse a empregada doméstica Nancy Garcia.

Para escapar da inflação, os argentinos voltaram ao antigo hábito de poupar em dólar. Mas, no ano passado, o governo impôs controles de câmbio: quem quiser comprar moeda estrangeira, precisa pedir aprovação da Afip (a Receita Federal argentina). O governo também bloqueou saques, com cartões de débito de bancos argentinos, no exterior. E impôs uma taxa adicional para quem usar o cartão de crédito fora do país.

Ainda assim, os voos para destinos como o Caribe estavam lotados em janeiro – o mês em que a maioria dos argentinos foge das cidades em busca de praias de água quente. “Foi por causa da inflação e do controle ao dólar”, explica Ana Catolino, que trabalha em uma agência de viagens de Buenos Aires. “Desde que limitaram a compra de dólares, nossos clientes têm usado o cartão para comprar pacotes de turismo com tudo incluído, muitos deles em resorts no Caribe ou no México”. Os pacotes são vendidos, de forma parcelada, em pesos argentinos – ao câmbio oficial. No mercado paralelo (que surgiu com o controle de câmbio), o dólar vale quase oito pesos, enquanto no oficial, cinco.

“Estou comprando duas passagens para a Europa, em maio. Com a inflação aqui, é melhor que deixar o dinheiro parado, e os preços lá, comparados com os daqui, até que não são altos”, disse o arquiteto Júlio Tolosa. Segundo ele, o congelamento foi uma admissão, por parte do governo, de que o índice oficial de inflação (criticado por economistas independentes e o Fundo Monetário Internacional) está abaixo do real.

Edição: Graça Adjuto

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