Isolamento de pessoas com hanseníase ficou para trás, mas ainda existe preconceito

27/01/2013 - 16h17

Aline Leal
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O isolamento de pessoas com hanseníase, imposto oficialmente pelo governo na década de 1940 e que durou cerca de 40 anos, deixou marcas na vida de muitos brasileiros. Valdenora Rodrigues, que foi levada para uma colônia quando tinha 9 anos, em 1969, diz que resolveu ficar no local até hoje por temer o preconceito.

“Somos cerca de 500 remanescentes da antiga Colônia Antônio Aleixo, que virou um bairro de Manaus depois da desativação, em 1978”, conta Valdenora, hoje coordenadora do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) do Amazonas. 

Ela lembra que começou a sentir o preconceito um ano antes do diagnóstico oficial da doença. “Minha mãe era a única professora da comunidade e então todos os pais dos alunos tiraram seus filhos da escola porque a filha da professora estava com lepra”, relata. Depois da confirmação, Valdenora teve que ir para o hospital-colônia e ficar totalmente separada da sua família.

“Meu pai teve que providenciar um barco, porque o barqueiro que nos levaria até o hospital-colônia não me deixou entrar. Eu estava toda inchada, cheia de manchas, uma criança toda doente. Fui à reboque, durante três dias viajando. Trinta metros de corda me separavam do barco: era por essa corda que eu pegava comida." Ela conta que os casais formados na colônia cuidavam das crianças que chegavam.

Valdenora diz que tentou buscar suas raízes. Chegou a sair da colônia depois que a área foi desativada, mas percebeu que não se sentia à vontade para morar fora do local onde cresceu e aprendeu o ofício de parteira. “No dia a dia a gente sofre o preconceito. A sociedade ainda não está informada sobre a doença”, lamenta.

Desde 2007, a Lei 11.520 estipula pensão especial, mensal, vitalícia e intransferível de R$ 750,00 para todos os que ficaram isolados compulsoriamente por causa da hanseníase. Cerca de 12 mil pessoas pediram esta indenização na Justiça, sendo que 10 mil processos já foram aprovados, 1,5 mil ainda estão sendo julgados e mil pedidos foram negados.

Assim como Valdenora, muitas pessoas com hanseníase foram isoladas e acabaram perdendo o contato com a família. Também houve casos de crianças nascidas nas colônias e entregues para adoção. Vinte mil pessoas ainda buscam seus familiares com a ajuda do Programa Reencontros, do Morhan, que faz as identificações por meio de exames de DNA.

Edição: José Romildo 

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