Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Finalmente na tarde de hoje (19), depois de todos os trâmites judiciais, o lavrador Gerôncio Brito de Souza conseguiu se reencontrar com os cinco filhos, que não via há quase 18 meses, desde que a família foi envolvida em um processo de adoção suspeito de irregularidade. “Fizeram uma coisa muito errada, mas Deus viu este quadro triste, e eu hoje tenho muito a agradecer”, disse à Agência Brasil.
Com a autorização do então juiz da comarca de Monte Santo, na Bahia, Vitor Xavier Bizerra, policiais acompanhados por conselheiros tutelares levaram, entre maio e junho de 2011, as crianças da casa em que viviam com a mãe, Silvânia Maria da Mota Silva.
Posteriormente, os cinco irmãos foram entregues separadamente a quatro casais de Campinas e de Indaiatuba, no interior de São Paulo. A rapidez do processo despertou suspeitas de irregularidades. Bizerra justificou sua decisão garantindo que a adoção não foi decidida em tempo recorde e que as autorizou com base em informações oficiais. Ainda assim, no último dia 27, o juiz Luiz Roberto Cappio, de Monte Santo, revogou a decisão de Bizerra e determinou que as crianças fossem devolvidas ao convívio familiar. O que ocorreu hoje.
“Não sei nem como me segurar de alegria por voltar a ver meus filhos, de volta à terra natal, onde vão estudar e crescer”, declarou o lavrador, responsabilizando o juiz Vitor Xavier Bizerra por, com sua decisão, ter gerado a tal “coisa muito errada”, que resultou em um “sofrimento muito doentio”, disse. “Não desejo nada de mal para ele, mas foi ele, em primeiro lugar, o responsável por tudo isso que aconteceu com a gente”, completou Gerôncio, que gastou R$ 94 em fogos de artifícios para comemorar o retorno dos filhos a Monte Santo.
Apesar da casa onde vinha dormindo nos últimos tempos ter sido incendiada no último dia 21 e a polícia ainda estar investigando se o incêndio foi criminoso ou apenas um acidente, o lavrador faz planos de reunir toda a família, voltando a viver com a mãe das crianças, Silvânia Maria da Mota Silva, de quem estava separado. “A gente agora vai voltar a viver juntos. Todos juntos”, prometeu.
A casa incendiada, segundo ele, pertencia a um parente. Moradia que havia construído, há cerca de dez anos, e onde criou os filhos, mas que teve de ser vendida juntamente com a casa dos pais edificada no mesmo terreno, para obter o dinheiro necessário para o pagamento da fiança que a Justiça fixou em R$ 5 mil a fim de que deixasse a prisão, para onde foi levado por desacato.
“Encontrei com um cidadão, muito meu amigo, que bateu no meu ombro e disse: 'Gerôncio, me desculpe, mas você não é homem não. Se um negócio desse fosse com um filho meu eu já tinha feito uma bagaceira naquele Conselho Tutelar'”, disse o lavrador ao falar do episódio sobre a sua ida ao Conselho Tutelar para obter uma explicação sobre a adoção dos filhos.
Ele admite ter “perdido as estribeiras”, embora garanta não ter sido violento. “Ainda parei pra pensar, porque violência, eu sei, não presta. Fui até o Conselho Tutelar e quis saber que tanta mentira era aquela. Por que tiraram os meninos da gente. Não quebrei nada, não trisquei a mão em ninguém, mas de repente a polícia chegou, e eu fui preso”, explicou.
Da casa de dois quartos, sala ampla e cozinha onde as crianças vão viver a partir de agora, ele só sabe que pertencia a uma conhecida. E que parte da mobília e dos eletrodomésticos foram doados por pessoas que se comoveram com a história da família. De acordo com o ouvidor nacional de Direitos Humanos, Bruno Renato Teixeira, a casa foi alugada e a família vai receber o aluguel social do governo do estado até ser incluída no Programa Minha Casa, Minha Vida.
“É uma casa boa, mas eu mesmo não estou sabendo se compraram, se alugaram. Sei só que a dona é uma senhora que eu conheço”, disse Gerôncio enquanto tentava decidir qual dos filhos iria ocupar a cama sobre a qual estava sentado enquanto relembrava a situação na qual esteve envolvido.
Edição: Aécio Amado