Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A trajetória de um dos mais importantes gravuristas brasileiros, o pernambucano Newton Cavalcanti (1930-2006) vem sendo resgatada por meio de uma exposição retrospectiva e do lançamento do primeiro catálogo de sua obra. As duas iniciativas integram um projeto cultural, patrocinado pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), através do Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais. O projeto teve como base a restauração, conservação e catalogação do acervo de quase 2.500 trabalhos, entre gravura e desenhos.
Inaugurada para convidados na noite de quinta-feira (13), no Museu Chácara do Céu, em Santa Teresa, zona central do Rio, e aberta ao público desde sexta-feira (14), a exposição Newton Cavalcanti: Lendas Rústicas exibe 40 obras que abrangem os principais temas recorrentes na obra do artista. Figuras do folclore como Negrinho do Pastoreio e Saci-Pererê, da literatura de cordel, como o Papagaio de Acelóis, religiosas como São Jorge e Iemanjá, séries sobre o futebol e sobre o poema épico Navio Negreiro, de Castro Alves, estão retratadas em diferentes técnicas: xilogravuras, gravuras em água-forte e água-tinta e desenhos a nanquim.
“Fundador de um universo gráfico original, feito de paixão e delírio, Newton Cavalcanti tornou-se um artista distinto no âmbito da gravura brasileira”, diz o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, no texto de apresentação da mostra, que tem curadoria de Michel Masson, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ele realizou, de modo muito próprio, a mescla inusitada do gosto popular do romance de cordel com a inventividade gráfica sofisticada do expressionismo”, acrescenta.
Também lançado na última quinta-feira (13) e com o mesmo nome da exposição, o catálogo traz um conjunto significativo de trabalhos de Cavalcanti, textos de críticos e do próprio artista, bibliografia e uma cronologia ilustrada. Nascido no interior de Pernambuco, ele veio para o Rio de Janeiro no início dos anos 50, começou a frequentar o Liceu de Artes e Ofícios e tomou contato com as oficinas de gravura de Raimundo Cela, na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1954, conheceu Oswaldo Goeldi, referência mundial no campo da gravura e com quem estabeleceu uma relação de aprendizado e amizade.
Espalhado por diversos locais do Rio onde o gravurista trabalhou e morou, além de espaços cedidos por amigos e instituições públicas, o acervo pessoal de Newton Cavalcanti foi reunido por sua filha, Janaina, e com o projeto da Funarte, a restauração pôde ser feita, a cargo da Cooperativa de Bibliotecários, Documentalistas, Arquivistas e Analistas da Informação (Datacoop). Criada em 1996, a cooperativa congrega profissionais da área de documentação e tem executado vários projetos de restauração de acervos.
Segundo Janaína Cavalcanti, o catálogo e a exposição no Rio são um primeiro passo para a divulgação da obra de seu pai. “A finalidade é levar a mostra para outras capitais, mas não há nada acertado ainda”, disse.
A exposição Newton Cavalcanti: Lendas Rústicas fica em cartaz até 17 de fevereiro e pode ser visitada de quarta a segunda-feira, das 12h às 17h. Os ingressos custam R$ 2, mas às quartas-feiras a entrada é grátis. O Museu Chácara do Céu, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), fica na Rua Murtinho Nobre, 93, em Santa Teresa.
Edição: José Romildo