Mostra em São Paulo discute representação do índio no cinema nacional

02/11/2012 - 16h06

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Refletir e discutir a representação do índio no cinema nacional é um dos objetivos da mostra Cinema Perigoso Divino Maravilhoso, que será realizada no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, de hoje (2) até domingo (4).

“A mostra reúne filmes em torno de contextos indígenas feitos por índios das etnias Mbya-Guarani [filmados por Ariel Ortega e Patricia Ferreira], Ikpeng [Karané Ikpeng], Krenak [Shirley, Douglas e Tom Krenak] e Maxakali [Derli, Guigui, Marilton, Janaina, Fernando e João Duro Maxakali] e por cineastas não índios que há anos colaboram com a luta indígena no Brasil, tais como Andrea Tonacci, Mari Corrêa e Vincent Carelli”, explicou a curadora Graziela Kunsch.

O título da mostra é uma alusão a uma cena em que o diretor Glauber Rocha aparece no filme Vento do Leste, do cineasta Dziga Vertov, na qual ele aponta que o caminho para o cinema do terceiro mundo é “perigoso, divino, maravilhoso”.

“A minha aposta como curadora é que podemos encontrar pistas desse cinema nessa produção em torno de contextos indígenas, configurando um outro cinema 'brasileiro'. Sempre há algo de perigoso, aventureiro e arriscado na aproximação entre cineastas não índios e índios e, agora, após 26 anos de existência e amadurecimento do projeto Vídeo nas Aldeias e o surgimento de projetos similares, o mesmo pode-se dizer da recepção das obras feitas por cineastas índios pelos não índios”, disse a curadora.

Segundo a curadora, a mostra foi pensada antes da publicação da carta da comunidade Guarani Kaiowá, que luta há décadas para conseguir a posse da terra em que vive em Mato Grosso do Sul. “Esse caso não é isolado. Há muitas etnias lutando pela demarcação de suas terras; muitos índios sendo assassinados por causa das monoculturas da soja [para ração de gado] e da cana [para etanol]. Desde a colonização até hoje a sociedade brasileira comete uma enorme violência contra os índios. Tão bárbara que muitas vezes se passa por ficção, mas é realidade. Isso precisa terminar”, disse.

Na mostra serão exibidos 16 filmes, sendo 12 documentários e quatro ficções. Entre os filmes que serão apresentados estão Vento do Leste; Festas e Rituais Bororo (um filme de 1916 de Luiz Thomaz Reis); Uaka (filme de Paula Gaitán, que mostra a celebração do Quarup); Corumbiara (de Vincent Carelli, de 2009); Iracema (de Questembert, um docudrama que reconta a história de Iracema, uma jovem mulher do isolado vilarejo brasileiro de Corubime) e Serras da Desordem (de Andrea Tonacci, sobre um índio que escapa de um massacre e fica perambulando sozinho pelas serras do Brasil), entre outros.

Além da exibição de filmes no auditório do MIS, o público poderá conferir as produções na Midiateca, que terá cópias em DVD dos filmes. Haverá também palestras e debates. No dia 24 de novembro também será realizado o Seminário Internacional Políticas da Imagem, no Paço das Artes.

A mostra, que tem parceria do Goethe-Institut, é gratuita. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas em http://www.mis-sp.org.br/

Edição: Fábio Massalli