Itamar Franco manteve discrição durante processo de impeachment de Collor

29/09/2012 - 12h51

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília – De maio a dezembro de 1992, quando se desenrolou uma das maiores crises institucionais do país desde o início da República, o então vice-presidente Itamar Franco, que compôs a chapa com Fernando Collor de Mello em 1989, manteve a discrição e o respeito ao então presidente. Em maio, Collor viu seu governo começar a desmoronar com a instalação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar desvios de recursos de campanha e corrupção cometidos pelo tesoureiro e pessoa de sua confiança, Paulo Cesar Farias, o PC Farias.

Durante esse período, Itamar Franco acompanhou de longe o desenrolar da crise. Mesmo com seus principais assessores da Vice-Presidência, como Henrique Hargreaves, a quem sempre se dirigiu como “irmão”, Itamar desconversava sempre que o assunto vinha à tona.

“Durante todo o processo ele [Itamar Franco] não conversava com ninguém. Mesmo quando a crise aprofundou-se, eu disse a ele que deveria estar preparado porque poderia ter que assumir a Presidência da República. Itamar foi taxativo: "Não, isso não é assim e o governo vai saber sair disso”, relatou Hargreaves à Agência Brasil.

Em 2 de outubro daquele ano, ao assumir provisoriamente a Presidência da República em decorrência do pedido de afastamento do então presidente Collor, Itamar permaneceu no gabinete da Vice-Presidência. A partir da tramitação do processo de impeachment no Senado, já autorizado pela Câmara, ele “se fechou” ainda mais com seus assessores.

Mesmo assim, Itamar Franco manteve um pequeno núcleo, incluindo Hargreaves, com quem discutia a crise. Não eram raros os momentos em que a sua assessoria de imprensa ligava para alguns poucos jornalistas que cobriam a Presidência da República para “tomar um cafezinho com o presidente”. Essa era a senha para conversas em off com esses repórteres e mesmo quando indagado sobre a sua efetivação no cargo a partir da cassação de Collor, o presidente em exercício apenas olhava vagamente para um ponto qualquer.

Henrique Hargreaves lembrou, ainda, dos momentos cruciais para Itamar Franco, logo após a queda definitiva de Collor, em 29 de dezembro de 1992. De imediato ele convocou todos os presidentes dos partidos políticos para uma reunião no Palácio da Alvorada. Na conversa, acompanhada por Hargreaves, ele disse que não buscou a Presidência e, caso os partidos não lhe garantissem a governabilidade até a eleições presidenciais de 1994, convocaria eleições gerais de imediato.

Hargreaves recordou que o mesmo pedido foi feito por Itamar, em uma segunda ocasião, aos líderes partidários do Congresso. “Nessa reunião, o próprio Lula disse que a governabilidade estaria garantida. Isso [as consultas aos presidentes e líderes dos partidos] não teve como esticar muito. Tinha que ser resolvido com urgência.”

Na composição do seu governo, o já presidente do mandato tampão de dois anos dividiu os 12 ministérios entre os partidos que aceitaram integrar sua base parlamentar e buscou nessas legendas nomes “dentro do perfil” de cada pasta. Ele manteve em sua cota pessoal, além dos ministros com assento na Presidência, como Casa Civil e Secretaria-Geral, os ministérios da área econômica, os militares, o da Saúde e o da Educação. 

Edição: Andréa Quintiere