Atenção à mulher que sofre aborto é deficiente em hospitais da rede pública de três capitais nordestinas, mostra pesquisa

26/09/2012 - 21h30

Aline Leal
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A atenção dada a mulheres que procuram os hospitais da rede pública de três capitais do Nordeste (Recife, Salvador e São Luís), após sofrer aborto ou em processo abortivo, é considerada deficiente de acordo com a pesquisa Qualidade da Atenção ao Aborto no Sistema Único de Saúde do Nordeste Brasileiro: O que Dizem as Mulheres?, divulgada hoje (26).

O estudo foi baseado em questionário feito com 2.804 mulheres, com mais de 18 anos, e considerou as normas técnicas lançadas em 2005 pelo Ministério da Saúde. Elas definem diretrizes de atendimento a mulheres no processo de abortamento no serviço de saúde, independentemente de ser provocado ou não.

As normas determinam o tipo de acolhimento, a orientação, os insumos e ambientes físicos, a qualidade técnica e a continuidade do cuidado oferecido a mulheres internadas com quadros de abortamento ou complicações dele decorrentes pelo sistema de saúde.

Na pesquisa feita em hospitais da rede pública do Recife, de Salvador e São Luís as mulheres relataram que, entre os problemas, está o da falta de medicação para dor assim que chegam ao hospital. “Isso implica impor às mulheres sofrimento, ansiedade e desconforto, com potencial risco para a saúde e para a vida”, diz a pesquisa.

De acordo com a pesquisadora Sandra Valongueiro, da Universidade Federal de Pernambuco e uma das uma das autoras do levantamento, as mulheres sofrem sem necessidade. “As mulheres que chegam em processo de abortamento nem sempre recebem analgésico antes e depois do procedimento. Ela chega com dor e espera por oito, doze horas para passar pelo esvaziamento uterino, e essa dor só é tratada durante o procedimento [médico]”, declarou. “Isso gera sofrimento, ansiedade e desconforto e não tem necessidade de acontecer porque o sistema de saúde tem analgésicos simples que poderiam resolver isso”, completou.

Na opinião de Sandra Valongueiro, os profissionais de saúde olham essa dor como algo natural do processo de abortamento, e, por isso, consideram que não precisa ser tratada.

Além da questão do sofrimento das pacientes, a pesquisa também avaliou a prática de aferição da pressão arterial, essencial em quase todos os procedimentos de saúde. Ele foi muito frequente em Salvador e no Recife (respectivamente 80,5% e 88,7%), mas considerada “muito insuficiente” em São Luís (31,7%).

A prevenção de infecção também foi analisada pelo levantamento. Em Salvador, o exame de aferição de temperatura, importante para essa prevenção, foi adotado antes e depois do procedimento cirúrgico de esvaziamento uterino em 69,7% das mulheres. No Recife, 43,8%, e São Luís foi “praticamente inexistente”, 4,4%.

A capital maranhense também apresentou o quadro mais grave com relação às orientações sobre os cuidados posteriores, de acordo com a pesquisa. Apenas 20% das mulheres disseram que receberam orientações sobre cuidados a serem tomados após a alta hospitalar. Aproximadamente 10% relataram ter sido alertadas sobre o risco de gravidez imediata e menos de 5% informaram ter agendada consulta para revisão. Só 3,2% das entrevistadas responderam ter recebido orientações sobre planejamento familiar e 1,1% foram prescritos contraceptivos com orientação de locais para sua obtenção. Nestes aspectos, Recife e Salvador apresentam indicadores abaixo de 50%.

A divulgação da pesquisa faz parte da programação do Dia Latino-Americano de Luta pela Legalização do Aborto, na sexta-feira (28), e na agenda da campanha 30 Dias de Mobilização Pela Vida das Mulheres, promovida pelo Fórum de Mulheres de Pernambuco.

 

Edição: Aécio Amado