Pesquisa mostra importância de projetos sociais em favelas do Rio

13/09/2012 - 21h40

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – As ações sociais em favelas do Rio são, muitas vezes, a única oportunidade que os jovens das comunidades têm para escapar da violência e da pobreza e não se envolver com o narcotráfico. É o que aponta uma pesquisa inédita, coordenada pela London School of Economics and Political Science (LSE).

O trabalho, uma parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pesquisou a atuação do AfroReggae e da Central Única de Favelas (Cufa) nas comunidades do Cantagalo, Madureira, Vigário Geral e da Cidade de Deus.

O resultado da análise de 130 projetos de desenvolvimento social foi apresentado hoje (13) no seminário Sociabilidades Subterrâneas – Identidade, Cultura e Resistência em Comunidades Marginalizadas, realizada na Favela do Cantagalo, em Copacabana.

A coordenadora da pesquisa, Sandra Jovchelovitch, disse que os exemplos vistos no Rio podem ser seguidos por comunidades marginalizadas em todo o mundo.

"Nós descobrimos tecnologias sociais de ação com uma eficácia muito grande que se deriva da esperança cotidiana, da esperança de vida, da sabedoria construída na vida cotidiana dessas próprias comunidades”, disse. “Isso é muito interessante no modelo de desenvolvimento social brasileiro, que se constrói na esfera pública, nos contextos, no que é necessário e precisa ser executado, e tem, por isso mesmo, condições de informar o Estado, fazedor de políticas públicas, os agentes que vão dar escala a essas ações”, completou.

Para a pesquisadora, os modelos estudados funcionam para as comunidades porque foram construídos no local, pelos próprios moradores. “Um dos grandes problemas do Estado em contextos de privação é que geralmente as ações vem de fora, concebidas por técnicos especialistas, cujo saber é muito importante e necessário, mas que não tem muitas vezes a esperança do vivido no contexto, então não funciona, a coisa não acontece”, declarou.

Sandra destacou também o fato de o trabalho social ser baseado no indivíduo, e não na coletividade como forma estatística. “Uma das grandes inovações que eles [Cufa e AfroReggae] fazem é prestar atenção no nível individual e comunitário. Eles trabalham com a pessoa, eles não têm medo, coisa que muitos movimentos sociais tinham, ficavam na questão coletiva, no número. Essas organizações trabalham com você, se interessam em como é que está a sua vida, como é que eu posso te estender a mão, qual é o seu caminho?”

O coordenador do AfroReggae, José Junior, lembrou que fez parte da primeira geração do que chamou de “intelectuais orgânicos”, surgida dentro das comunidades, que começou a despontar na década de 1990. Para ele, a pesquisa vai chamar a atenção de quem está fora do morro para o trabalho importante que é feito por essas organizações.

“Pra um tipo de conteúdo e conhecimento que até bem pouco tempo atrás ainda não tinha sido sistematizado, não tinha sido ainda entendido, então gera o que gerou aqui neste lugar, que é um teatro na favela, e onde você tem um público extremamente eclético. E acho que o interesse [da pesquisa] vai fazer com que a gente possa cada vez mais potencializar as nossas ações sociais, culturais, artísticas, de transformação e assim vai”.

O secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Rogério Sotilli, destacou que o Rio de Janeiro representa a dicotomia da desigualdade que existe no Brasil. “É fundamental fortalecer estruturas como as proporcionadas pela Cufa e AfroReggae. E que é necessário forjar articulações inovadoras entre Estado, movimentos sociais, mídia, empresas, setor privado, criando novas leituras sobre as comunidades populares e colocando a favela na agenda da cidade”.

O trabalho de campo da pesquisa Sociabilidades Subterrâneas foi feito entre outubro de 2009 e fevereiro de 2010. O estudo será apresentado em Londres, no dia 2 de novembro.

 

Edição: Aécio Amado