Superar analfabetismo nas comunidades rurais é um dos principais desafios do campo, diz ONG

21/08/2012 - 17h52

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Superar o analfabetismo nas comunidades rurais no país ainda é um dos principais desafios para os movimentos de trabalhadores do campo brasileiro. A afirmação foi feita hoje (21) pela integrante da Via Campesina no Ceará, Maria de Jesus dos Santos, durante palestra no segundo dia do Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que ocorre em Brasília até amanhã.

Segundo Maria, que citou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos cerca de 14 milhões de analfabetos existentes no país, quase 5 milhões são camponeses.

“O analfabetismo no Brasil não está presente entre os grandes latifundiários, entre os comerciantes, os industriais ou os empresários, mas entre os trabalhadores. É uma questão de classe e precisa ser nossa grande prioridade. Nas comunidades onde o analfabetismo é forte, é mais fácil haver manipulação, a organização é mais difícil e os trabalhadores assumem uma postura de subalternos”, disse.

Maria também defendeu uma maior participação dos movimentos camponeses na formulação das políticas públicas de educação específicas para essa parcela de brasileiros. “Não queremos ser só beneficiários ou público-alvo, mas sujeitos nessas políticas”, acrescentou.

A integrante da Via Campesina avalia que houve avanços nos últimos anos, como o lançamento das Diretrizes Nacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, pelo Conselho Nacional de Educação, além da criação das bases para a instituição da Política Nacional de Educação no Campo, por meio de decreto presidencial, em 2010, mas criticou o conceito adotado no Brasil de levar à área rural uma “escola assistencialista, precária e associada aos interesses do latifúndio, sem reconhecer e valorizar a localidade onde está inserida”.

“O projeto de educação no campo deve ser enraizado nos interesses das organizações camponesas, baseada na agricultura familiar e nos seus variados modos de vida. As escolas indígenas têm que ter sua cultura, as quilombolas têm que ter sua história, sua tradição, e as camponesas, os valores de seus movimentos”, diz.

Divina Lopes, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Maranhão, que também participa do encontro, disse que a formação dos professores que trabalham nas escolas do campo precisa ser específica. Segundo ela, além de enfrentar infraestrutura insuficiente em diversas unidades, os alunos, em muitos casos, não têm os saberes e as experiências locais incluídos no processo de ensino.

“Muitas escolas da zona rural na minha região ainda são de pau a pique. Além disso, em muitas delas, as experiências voltadas para o campo são deixadas de lado, o que compromete a valorização da história e da experiência camponesa”, lamentou.

José Wilson, secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), disse que uma escola de qualidade ajuda a fixar os trabalhadores no campo, permitindo que eles identifiquem oportunidades e potencialidades.

“A escola que a gente quer mantém o povo, inclusive o jovem, no campo, porque lhe confere condições de promover seu próprio sustento, sua vida com dignidade nesse espaço. Quando a educação dialoga com a realidade local, as raízes, os hábitos, os saberes e as vivências que já existem em determinada região, ela facilita o aprendizado e contribui para um melhor desempenho das atividades no campo”, disse.

De acordo com o representante da Contag, um exemplo seria a inclusão de técnicas de convivência com a seca, como estratégias de captação de água da chuva e plantio de espécies adaptadas ao clima nas escolas da região do semi-árido.

“Por isso, a educação no campo não pode ser pensada universalmente, mas regionalmente para que sejam levadas em consideração as necessidades de cada lugar”, defendeu.

Edição: Fábio Massalli