Mulher fluminense continua sendo a maior vítima de violência no estado, diz dossiê

14/08/2012 - 18h27

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A violência contra a mulher continuou crescendo no estado do Rio de Janeiro em 2011, conforme atestou o Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP), na sétima edição do Dossiê da Mulher, divulgado hoje (14). As mulheres foram a maioria das vítimas dos crimes de ameaça (66,8%), lesão corporal dolosa (64,5%) e estupro (82,6%).

Dentre as edições da série, iniciada há seis anos, houve aumento no número de notificações de violência contra a mulher desde 2009, com exceção de homicídio doloso que caiu em 2010 e voltou a crescer no ano passado (de 6,3% para 7,1%).

Entre 2010 e 2011, o número de notificações de casos de estupro de mulheres aumentou 7,2%, com uma média de 335 vítimas por mês. Entre as vítimas de ameaças, os casos aumentaram 8,6% no mesmo período e 7,2%, no caso de lesão corporal dolosa.

O diretor-presidente do ISP, coronel Paulo Teixeira, avaliou que a tendência em relação aos crimes contra a mulher tem sido a mesma desde o início do levantamento, o que exige uma reflexão profunda por parte da sociedade. No entanto, segundo ele, o aumento das notificações também significa maior conscientização por parte das mulheres e a presença de estruturas públicas de apoio mais bem preparadas e de melhor acesso.

“O aumento das notificações tem mostrado um aumento da confiança por parte do cidadão nesse sistema que envolve polícia, Judiciário e assistência social. Além disso, existem diversas instituições que participam na redução dessa violência, campanhas de esclarecimento ao público”. Teixeira reconheceu que é preciso ampliar mais a rede de apoio, mas justificou que o processo é lento e demanda estudos e estratégias adequadas.

Os homicídios dolosos, aqueles em que é caracterizada a intenção, tiveram aumento de 1,3%, com uma média mensal de 25 mortes. O estudo mostra ainda que a maior parte dos atos de violência aconteceu na casa da vítima e foi cometida por parentes. A coordenadora da pesquisa, major Cláudia Soares, disse que os dados chamam a atenção para as especificidades da violência praticada contra a mulher e revelam que a rua, às vezes, é mais segura do que a própria casa.

“Ao longo de toda a nossa série e em outros estudos, fica constatado que o ambiente da casa é onde acontece mais esse tipo de violência”, declarou. “Muitas mulheres têm medo, vergonha da comunidade, dos familiares e acabam não fazendo a notificação”.

As maiores incidências dos delitos analisados no dossiê ocorreram na Baixada Fluminense e na zona oeste da capital fluminense. Para a coordenadora do projeto, o estudo serve, sobretudo, para subsidiar políticas públicas e estratégias para o enfrentamento da violência contra a mulher. “Se você sabe que, em uma determinada área, tem uma concentração maior [de casos de violência contra a mulher], o que pode ser feito? Campanhas educativas? Precisamos conscientizar essas mulheres. Os professores que lerem esse documento podem abordar isso em sala de aula. Podem tratar da violência doméstica. Pois as crianças também são vítimas, já que, muitas vezes, a violência se dá na presença dos filhos”, observou Cláudia..

O estudo identificou que, nos locais onde existem delegacias especializadas de Atendimento à Mulher (Deam), o número de vítimas é mais expressivo, o que permite deduzir que as mulheres passam a registrar mais os casos quando há a presença do atendimento especializado. Ao todo, o estado tem 11 Deams e sete juizados especializados no atendimento dos casos de violência contra mulher, mas as denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia.

O dossiê completo pode ser acessado no site do ISP.

Edição: Lana Cristina