Baixos salários provocam evasão nos quadros do Incra, dizem servidores

14/08/2012 - 18h56

Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Curitiba – Em greve há quase dois meses, os servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reclamam que a baixa remuneração paga pelo órgão tem provocado a evasão de trabalhadores e dificultado o preenchimento de vagas abertas por concurso público.

De acordo com os trabalhadores, é comum que servidores troquem o Incra por outros órgãos públicos com melhor remuneração. No caso das novas contratações, alguns cargos têm o salário inicial inferior à média do mercado.

Para preencher um cargo de engenheiro civil, por exemplo, a Superintendência do Incra no Paraná precisou convocar ao todo seis candidatos. Apenas o sexto da lista de aprovados aceitou assumir o cargo, que tem remuneração de R$ 3,7 mil por uma jornada de oito horas diárias – abaixo do piso da categoria estabelecido por lei federal, de nove salários mínimos, o equivalente a pouco mais de R$ 5,5 mil.

"O próprio Incra produziu um levantamento sobre os índices dessa evasão e repassou ao Ministério do Planejamento, que tem conhecimento desses números", disse o servidor João Wagner Gomes da Silva, dirigente da Associação dos Servidores do Incra no Paraná (Assincra-PR), em entrevista à Agência Brasil.

Dezenas de servidores do Incra participaram de uma manifestação hoje (14) na Praça Tiradentes, no centro de Curitiba. Eles fizeram panfletagem e distribuíram cerca de 350 mudas de árvores nativas e frutíferas à população. Houve filas para retirar pés de araçá, pitanga, cereja, gabiroba e uvaia, entre outras mudas.

"Acho bacana, o protesto é mais do que justo. Se você não está satisfeito, tem que correr atrás", comentou a confeiteira Júlia Sodrek, que retirou uma muda de pitangueira na barraca montada pelos servidores do Incra, antes de chegar ao supermercado onde trabalha. "Vou plantar no meu quintal”.

Iniciada em 18 de junho, a paralisação dos servidores do Incra atinge 28 das superintendências regionais do órgão, com uma adesão nacional de 80%, segundo a Assincra-PR. Apenas as unidades de Alagoas e Sergipe não aderiram ao movimento. "Se o governo apresentar uma proposta ainda hoje, amanhã pela manhã iremos analisá-la em assembleia", informou Silva.

A categoria reivindica reposição salarial de 22%, equiparação de vencimentos com o Ministério da Agricultura, novas contratações por concurso público, reestruturação das carreiras e melhoria das condições de trabalho. O Incra tem cerca de 5,7 mil servidores em todo o país. Em 1985, eram cerca de 9 mil. Até o final de 2014, pelo menos 2 mil servidores do órgão terão condições de se aposentar.

Edição: Davi Oliveira