Deficientes visuais denunciam má qualidade na adaptação de provas de concursos organizados pelo Cespe

07/08/2012 - 21h44

Da Agência Brasil

Brasília – Deficientes visuais se reuniram hoje (7) com representantes da Procuradoria da República no Distrito Federal e do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) para apontar falhas na aplicação de provas de vestibulares e concursos públicos promovidos pela instituição. Os deficientes alegam que o Cespe não oferece um serviço de qualidade aos candidatos que declaram ter algum tipo de necessidade especial.

“Acho injusto termos de competir de igual para igual e nem mesmo termos condições de chegar aos locais de provas. A única coisa que queremos é ter a oportunidade de mostrar nossa capacidade, sem ter que enfrentar obstáculos”, desabafou a universitária Maria Eduarda.

Entre as principais reclamações está a falta de preparação e capacitação dos ‘ledores’ [pessoas que fazem a leitura da prova aos candidatos com deficiência visual]. A estudante Maria das Graças Morais relatou que, durante uma prova para o vestibular da Universidade de Brasília (UnB), percebeu que a ‘ledora’ não tinha capacidade para o trabalho. “Ela não mantinha a íntegra do texto que eu ditava e, ao que parece, não obedecia às regras de acentuação e grafia”, relatou.

As denúncias também alertam sobre erros de transcrição da prova para o braille. O universitário Tomas Perreira, que cursa letras na UnB, afirmou que, em uma das vezes em que fez o vestibular da instituição, encontrou erros de grafia. “Havia questões com a simbologia trocada, palavras como 'exemplo', vinham escritas com z e não com x”.

A falta de acessibilidade aos locais de provas e a má qualidade no atendimento aos deficientes visuais foram apontadas como problemas de concursos organizados pelo Cespe. Segundo eles, os problemas começam já nas inscrições, quando têm que apresentar laudos que comprovam a deficiência. “Falta a preparação dos funcionários e um local de fácil acesso onde possam nos receber”, avaliou Maria Eduarda. “Sempre que fazemos uma prova, temos que apresentar novamente um laudo para confirmar a deficiência. Às vezes isso demora muito pra sair, principalmente em hospitais públicos”, completou.

O coordenador de Pesquisa em Avaliação do Cespe, Marcos Vinícius Soares, disse que a instituição está trabalhando para a melhoria no atendimento aos deficientes visuais e ressaltou a importância do diálogo proporcionado na audiência de hoje. “Vamos tentar oferecer maior capacitação para os ‘ledores’ e tentar manter uma interação com os concorrentes”. Soares adiantou que, em breve, a instituição contará com um banco de laudos de participantes, o que deve resolver a questão dos laudos médicos.

A Procuradoria da República no Distrito Federal vai abrir inquérito civil público, para apurar as denúncias. Dentro de 30 dias, uma reunião técnica deve ser agendada com o Cespe, a Organização Nacional do Cegos do Brasil (Oncb) e a procuradoria, para apresentar soluções às reclamações apresentadas.

Edição: Lana Cristina