Heloisa Cristaldo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A ex-diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos apenas cumpria ordens quando fazia pagamentos a parlamentares, argumentou hoje (7) seu advogado, Leonardo Yarochewsky, no quarto dia do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Simone Vasconcelos era a responsável pela distribuição dos recursos provenientes de empréstimos feitos pela empresa de Marcos Valério. “Simone entrou na SMP&B em 1999 e nem era sócia. O cargo de diretora financeira não lhe concedia nenhuma autonomia, nem poder de mando, nem autonomia financeira. Era assalariada, funcionária de carteira assinada. Ela não é coautora, ela não tinha domínio sobre qualquer fato”.
Yarochewsky usou o limite máximo de uma hora em sua sustentação oral e afirmou que sua cliente deveria constar do processo apenas como testemunha. "Simone Vasconcelos deveria figurar como testemunha deste processo porque o depoimento dela foi citado, quando do oferecimento da denúncia, por oito vezes. Nas alegações finais, por 11 vezes, a acusação faz referência a Simone Vasconcelos. Isto porque muito do que o acusador estatal [o procurador-geral] sustenta é baseado nas palavras de Simone, que, em todo momento que foi ouvida, traz a mesma versão, com transparência e integridade”, alega Leonardo.
“Em momento algum ela negou que, a mando de Marcos Valério, entregou quantias em dinheiro a vários parlamentares. Ela não sabia quem [eles, os parlamentares que pagava] eram, ela não conhecia a composição de parlamentares”, disse em relação às acusações do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
A ex-funcionária da SMP&B responde por cinco crimes: lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e corrupção ativa. Somados os crimes, a pena máxima pode chegar a 327 anos. A SMP&B era a empresa de Marcos Valério que tomava os empréstimos para repassar os recursos aos parlamentares, com o objetivo de que eles votassem em projetos de interesse do governo no Congresso Nacional.
O advogado citou também a acusação de Gurgel de que as agências de Marcos Valério, em determinada ocasião, tinham R$ 650 mil em espécie, que foram transportados pelo carro-forte. “Se é um empréstimo é vazio, uma farsa, tudo seria feito na calada da noite. Não numa agência bancária que funcionava regularmente. Simone fez isso à luz do dia. Ela pegou caixa forte, sim, por causa das saidinhas de banco acontecem toda hora. O pagamento não era feito só para os políticos, não. Vários clientes, como artistas, exigem receber em dinheiro."
Assim como Roberto Gurgel, que encerrou a sustentação oral com um trecho da música Vai Passar, de Chico Buarque, o advogado terminou as alegações em defesa de Simone Vasconcelos com o trecho de Apesar de Você, do mesmo cantor e compositor. “Você que inventou esse estado, inventou de inventar toda escuridão. Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão. Apesar de você amanhã há de ser outro dia”.
A previsão é que a fase de defesa dos réus se estenda até o dia 14 de agosto, quando começa a votação dos ministros do STF. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a condenação de 36 dos 38 réus. O ex-ministro da Comunicação Social da Presidência da República Luiz Gushiken e o assessor do PL, atual PR, Antonio Lamas foram excluídos da condenação por falta de provas.
Edição: Lana Cristina