Saldo de empregos nos bancos cai 83% no 1º trimestre; ministro critica rotatividade no setor

20/07/2012 - 18h54

Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Curitiba – O saldo de empregos gerados pelo sistema financeiro nacional foi 1.144 postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano. O resultado representa uma queda de 83,3% em relação ao primeiro trimestre de 2011, quando o setor registrou um saldo positivo de 6,8 mil vagas.

De janeiro a março de 2012, os bancos contrataram cerca de 11,1 mil trabalhadores e demitiram 10 mil. Os números, compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) a partir de dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram divulgados nesta sexta-feira (20).

O salário médio dos bancários demitidos era R$ 4,3 mil. Já o dos novos contratados, R$ 2,6 mil, o equivalente a 61,2% da remuneração dos dispensados. "Estamos muito preocupados, esses dados são alarmantes", afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, durante entrevista coletiva em Curitiba. "Os bancos fazem uso da estratégia cruel da rotatividade para reduzir suas despesas com pessoal."

Presente à coletiva, o ministro do Trabalho, Brizola Neto, também criticou os bancos. "O que vemos é uma espécie de incentivo à rotatividade, que não pode ser um instrumento contábil das empresas para reduzir custos", afirmou.

Rotatividade - O ministro defendeu duas medidas para combater a rotatividade de empregos no país. Uma delas seria a regulamentação do Artigo 239 da Constituição Federal, cujo Parágrafo 4º prevê o pagamento de contribuição adicional por parte das empresas com rotatividade acima da média de seu setor.

"Essa regulamentação seria um mecanismo inibidor muito importante contra a rotatividade", acredita Brizola Neto. "Há projetos sobre isso tramitando no Legislativo, mas sem rito de urgência. Estamos conversando inclusive com os empresários sobre o assunto."

Outra medida seria a adoção, pelo Brasil, da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dificulta demissões sem justa causa. Datada de 1982, a convenção ainda não foi ratificada pelo país.

Questionado pela Agência Brasil sobre o que falta para o país adotar a convenção, Brizola Neto citou a correlação de forças no Congresso Nacional. "Na época em que eu ainda era deputado, várias vezes pedimos à presidência da Câmara para que a proposta fosse votada, mas a matéria sempre foi barrada nas reuniões do colégio de líderes", disse o ministro.

Brizola Neto informou que  o governo federal prevê gastar R$ 28 bilhões com seguro-desemprego este ano, e que o custo do benefício deve ultrapassar R$ 30 bilhões em 2013. "As demissões são um drama para as famílias afetadas e têm um custo alto para os cofres públicos."

De acordo com o Dieese, a queda na geração de empregos nos bancos é mais acentuada do que no restante da economia. A geração total de empregos no país foi 321,2 mil vagas no primeiro trimestre, uma queda de 27,5% em relação ao mesmo período de 2011. No sistema bancário, a queda foi 83,3%.

A diferença entre as médias salariais dos demitidos e dos contratados também é menor no conjunto da economia do que nos bancos. Gira em torno de 7%, segundo o Dieese.

De janeiro a março de 2012, os cinco maiores bancos do país tiveram um lucro líquido de R$ 11,8 bilhões.

Fusões - O presidente da Contraf criticou ainda as fusões no setor bancário e informou que a entidade pretende solicitar audiências com o Banco Central (BC) e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para debater o assunto. "A concentração bancária tem sido muito prejudicial à categoria", disse Cordeiro.

Brizola Neto concorda com a confederação. "As fusões do setor financeiro não afetam apenas os bancários, mas também os clientes, porque o valor das tarifas têm aumentado."

Febraban - A Agência Brasil procurou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que divulgou nota informando que mais da metade das demissões de bancários ocorridas em 2010 e, no primeiro semestre do ano passado, teriam sido realizadas a pedido dos próprios funcionários, cuja "grande maioria apenas trocou de banco, o que não gerou rotatividade para o setor".

A federação patronal argumenta que a taxa de rotatividade por iniciativa dos empregadores foi 3% em 2010. "A longa permanência do bancário no mesmo emprego explica porque a média salarial de quem deixa os bancos sempre será maior do que a média de quem entra, pois as pessoas permanecem muitos anos nos bancos e fazem carreira", diz a Febraban. "Os bancários sempre sairão de um banco com salários maiores do que quando entraram."

A nota da Febraban afirma ainda que geralmente os bancários contratados ocupam inicialmente os cargos menores e que a rotatividade não reduz o salário médio do setor. "Nos últimos anos, independente da rotatividade, houve aumento significativo dos quadros nos bancos, com muitas contratações de jovens em início de carreira."

Edição: Fábio Massalli/atualizada às 18h43 para acréscimo de informações