Novas técnicas prometem reduzir volume de áreas degradadas no país, dizem especialistas

12/07/2012 - 23h27

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O combate à degradação das terras no país depende do uso de novas técnicas para evitar o esgotamento e empobrecimento do solo, com enfraquecimento da cobertura vegetal e consequente aparecimento da erosão. O assunto faz parte dos temas discutidos no 9º Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas, que prossegue até amanhã (13) no Rio.

Estimativas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) apontam para a existência de até 140 milhões de hectares degradados no país, o equivalente a uma área duas vezes maior que a França. A maior parte dos casos é de terrenos que tiveram a cobertura florestal suprimida para lavoura e depois acabaram abandonados pela baixa produtividade, virando pastos para gado até o ponto em que a deterioração tornou o solo imprestável economicamente.

Também há casos resultantes de áreas de mineração de carvão ou ferro a céu aberto e que resultaram em profundas mudanças na estrutura do solo, acarretando imensas crateras e que precisam ser replantadas para recompor a paisagem.

O pesquisador da unidade de florestas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Florestas), Gustavo Curcio, disse que em regiões como a amazônica, onde a camada fértil do solo não chega a 30 centímetros, a derrubada das florestas acaba comprometendo o equilíbrio biológico, o que leva em curto prazo ao fracasso das atividades econômicas.

“Se você tirar a floresta e queimar a matéria orgânica, o solo fica exaurido. Colhe duas ou três safras e acabou. Aí tem que plantar capim [para criar gado], que dura cinco anos no máximo. O solo empobrece de um jeito que nem a brachiara [tipo de gramínea resistente, natural da África, muito difundida no Brasil] consegue resistir”, explicou o agrônomo da Embrapa.

Para resgatar esses solos degradados é preciso investir em um manejo integrado entre lavoura, pastagem e floresta. As culturas ficam em meio às árvores, que são plantadas em linha espaçadas, permitindo insolação adequada.

“Tem que se propor manejos que não exponham o solo, criando formas de criar biomassa e fazer a rotação de cultura. É uma mistura de gado, agricultura e árvore. Cada um tem um potencial diferente”, disse Curcio.

Numa safra se planta arroz de sequeiro, depois milho, depois pasto, por exemplo, o que evita o enfraquecimento do solo. Além disso, segundo o agrônomo, o sombreamento das árvores beneficia o gado, que acaba engordando mais rápido.

Outras experiências - Para ajudar na recuperação de extensas áreas degradadas, empresas desenvolveram técnicas que aceleram a revegetação, como a hidrosemeadura adotada pela empresa baiana Massi Paisagismo, que se especializou no setor. Dentro de um caminhão-pipa é colocada uma mistura de água, adubo, celulose de papel reciclado e sementes de várias espécies vegetais. Depois a mistura é lançada em jatos sobre a terra nua, que 45 dias depois se tornará um gramado compacto, evitando a erosão.

A empresa também desenvolveu um tipo de tapete trançado em fibras naturais de juta e fibra de coco, que é usado para recobrir grandes declives, como em beiras de estradas, aeroportos ou leitos de ferrovias.

A cobertura vegetal é o primeiro passo para que depois outras espécies retornem, como arbustos e pequenas árvores precursoras, como explicou o engenheiro agrônomo Diony Alves Reis, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), do Rio Grande do Sul. Ele faz parte de uma equipe que vem estudando há quase dez anos formas de recuperação do solo da mina de carvão do município gaúcho de Candiota (RS), uma imensa cratera a céu aberto, explorada há décadas e que pode ser vista até em imagens de satélites.

“As plantas de cobertura [gramíneas] se desenvolvem se você der uma condição mínima, com adubação e colocação de calcário [para corrigir a acidez do solo]. O objetivo é que a área recuperada possa receber árvores e que permita o desenvolvimento da fauna também. Assim é possível recuperar áreas degradadas e possibilitar que o ambiente volte a se manter equilibrado, com o retorno da fauna e de todos os demais seres vivos”, disse Reis.

Segundo Reis, se não houver recomposição do solo sobre as minas de carvão, forma-se uma mistura que resulta em ácido sulfúrico que é levado pelas chuvas para dentro dos riachos, contaminando seriamente o meio ambiente.

Edição: Fábio Massalli