A partir de hoje, a segurança nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio, passa a ser feita pelas UPPs

09/07/2012 - 19h21

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Depois de um ano meio de ocupação nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da capital fluminense, o Exército deixou hoje (9) de fazer a segurança das comunidades. No período, os militares tiveram que enfrentar traficantes armados e as denúncias, de organizações da sociedade civil, sobre abuso de autoridade, roubo e tortura de moradores.

A partir de agora, quem assume as ações policiais no Alemão e na Penha é o comando das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que já tem quatro bases com cerca de mil policiais na área. O coordenador, coronel Rogério Seabra, que participou do evento, disse que a aproximação da comunidade é um processo "em construção" que pretende estimular pelo diálogo.

"É a comunidade que vai dizer suas prioridades", disse. "Somos uma polícia de proximidade, capaz de dialogar, de ouvir mais do que falar", completou. Um dos projetos do coronel é promover a visita de crianças à sede do comando das UPPs, que fica na antiga base operacional da Força de Pacificação, na Avenida Itaóca.

Diferentemente das inaugurações das sedes das UPPs na área, a comunidade não participou da solenidade. Em entrevista pelo telefone à Agência Brasil, o coordenador da organização não governamental (ONG) Raízes em Movimento, que atua há dez anos no Alemão, Allan Pinheiro, disse que a presença da Força de Pacificação foi marcada pela falta de diálogo, que tende a se acirrar com a transição para a UPP.

"Não temos mais autonomia de fazer festas comunitárias, nem as tradicionais, que eram o momento de sociabilidade da comunidade. Não tem diálogo nenhum. Diálogos são monólogos, que são feitos no momento do conflito, de repressão", denunciou. Pinheiro disse ainda que no domingo (8) uma festa junina foi suspensa pela polícia, que continua sem autorizar os bailes funks.

Durante o evento de transferência das ações de policiamento nas comunidades para a Secretaria de Segurança Pública, o general responsável pela Força de Pacificação, Adriano Pereira Júnior, minimizou os problemas. De acordo com ele, a Força de Paz sai dos complexos do Alemão e da Penha, que já foram considerados o quartel general da marginalidade no Rio, com o "sentimento de missão cumprida".

"Quando chegamos aqui as pessoas caminhavam olhando para o chão, com medo de nos cumprimentar. Nós usávamos colete e capacete. Gradativamente, fomos ganhando confiança, à medida em que trabalhávamos respeitando muito a população que, com o tempo, mudou de atitude", declarou. Para o genral, grupos que resistiram, estavam ligados ao tráfico.

O governado Sérgio Cabral disse que as ações nas comunidades não são apenas de segurança e informou que nos últimos anos aplicou cerca de R$ 800 milhões em unidades hospitalares, de ensino e em saneamento básico. Do trabalho dos militares, destacou que eles desempenharam com êxito uma função para a qual não receberam treinamento específico.

"Aqui passaram militares que trabalharam em uma situação absolutamente díspares da formação, ", declarou Cabral. " A formação [dos militares] é para o embate, o confronto, mas aqui se fez defesa da cidadania. Soldados foram chamados para ação de intervenção social, para administrar situações familiares, confrontos de vizinhos e, ao mesmo tempo, enfrentar a marginalidade ".

Durante o evento, o general Adriano Pereira informou que estar para ser julgado o caso de um tenente do Exército acusado de roubar uma chopeira e dois aparelhos de ar condicionado da casa de moradores. A denúncia foi aceita pelo Superior Tribunal Militar.

 

Edição: Aécio Amado