Unodc não sabe qual é a prevalência do consumo de crack e de cocaína no Brasil

26/06/2012 - 17h19

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) divulgou hoje (26), em Brasília, o Relatório Mundial sobre Drogas de 2012, no qual estima que houve nos últimos anos uma redução do uso de cocaína na América do Sul. No período de 2009 a 2010, a prevalência caiu de 0,9% para 0,7% da população.

O dado, no entanto, não é seguro, pois, entre outros motivos, não tem informação precisa sobre o consumo da droga no Brasil. “Percebe-se um aumento no consumo de cocaína no Brasil, mas a falta de dados novos para este país impede um melhor entendimento do impacto nas estimativas regionais”, descreve o relatório.

Segundo Bo Mathiasen, representante do Unodc para o Brasil e Cone Sul, os dados disponíveis sobre o consumo da cocaína e seus derivados no país ainda são de 2005. “Nós não sabemos qual é a prevalência do consumo de crack e de cocaína no Brasil”, reconheceu. Uma das dificuldades para saber sobre o consumo é que ainda não há consolidação nacional dos dados das secretarias de Segurança dos estados, que também combatem o tráfico e consumo de drogas. A previsão do Ministério da Justiça é ter os dados consolidados no próximo trimestre.

Apesar da falta de informação, o Unodc atesta que houve aumento recente do consumo da cocaína no Brasil. “Embora não existam dados recentes sobre o uso de drogas ilícitas no Brasil, especialistas percebem um aumento no uso de cocaína em 2010”, assinala o relatório. “A percepção é que aumentou. Até que nível, nós não sabemos com certeza”, disse Bo Mathiasen.

A explicação para o suposto aumento de consumo de drogas se dá pelo crescimento da renda em alguns estratos sociais e também pela a penetração do crack - que utiliza a pasta de coca, mais barata que a cocaína pura - na população mais pobre. “Tornou-se bastante visível que as pessoas estão usando crack; e as pessoas que estão usando crack são dos grupos sociais de menor renda, que devem estar entrando no consumo de cocaína e de derivados”, aponta Roberto Tikanori, coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde.

“O fenômeno do crack joga luz sobre uma população que já estava desassistida. A gente começa observar um grupo que as políticas públicas não os atingem, de fato”. Segundo Tikanori, muitos dos usuários não têm documentos pessoais e nem endereço, o que dificulta o cadastramento para atendimento até mesmo em programas como o Bolsa Família.

Para atingir essa população, o Ministério da Saúde tem feito convênios com estados e municípios para criar consultórios ambulantes que atendam à população na rua. Já estão “pactuadas” 92 unidades, mas nem todas entraram em funcionamento ainda. Além disso, o governo quer ampliar o número dos centros de Atenção Psicossocial (Caps), incluindo municípios de menor porte. Atualmente, há cerca de 1,8 mil Caps em funcionamento em todo o país.

De acordo com Bo Mathiasen, a falta da presença do Estado propicia o consumo de drogas assim como a produção. É o que acontece no Afeganistão, Colômbia, Mianmar e Peru, onde as áreas de produção “são áreas de instabilidade onde o Estado não tem muita influência ou influência alguma”, assinala o representante.

Edição: Fernando Fraga