Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Igor Mateus Broc tem 12 anos, mora no município gaúcho de Pontão e está no Rio de Janeiro pela primeira vez. Ele faz parte do grupo de 100 crianças de aldeias indígenas, ribeirinhas, de comunidades quilombolas, pantaneiras, do Semiárido, de centros urbanos, de zonas rurais e com deficiências. Elas participaram de oficinas e fóruns ambientais na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e elaboraram um documento com propostas sustentáveis para o governo brasileiro.
A Carta das Crianças para a Terra foi entregue hoje (22) à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, pelas crianças e pela apresentadora Xuxa Meneghel, no espaço Humanidade 2012, no Forte de Copacabana. A carta é resultado do projeto +Criança na Rio+20, promovido pela fundação Xuxa Meneghel.
“Eu entendo que a participação das crianças na Rio+20 é muito importante para melhorar o futuro do nosso planeta. Porque ele está acabando aos poucos pela poluição e pelo desmatamento”, disse Igor Broc. Para ele, as crianças podem contribuir em muito para melhorar a situação ambiental do planeta. “Já que os adultos não estão fazendo muita coisa, a gente pode tentar melhorar, fazer uma conscientização para melhorar o planeta”, completou.
Por meio de desenhos e frases, as crianças expressaram as suas prioridades e anseios rumo ao desenvolvimento sustentável. Cleiton Vieira Santos, da Aldeia Xandó, no município de Porto Seguro, na Bahia, cobrou melhores condições de habitação. “Tem que melhorar também a moradia das pessoas. Elas moram em beira de praia e qualquer vento pode levar [as casas]. Várias coisas precisamos. Tem que mudar o modo de vida das pessoas”.
Elizangela Souza dos Santos, da comunidade Vila Moura, em Tefé, no Amazonas, destacou a importância da participação das crianças na contribuição para melhorar o meio ambiente. “A gente tem que fazer o impossível para ajudar o planeta Terra”, disse. “Não jogando lixo nos rios, não desmatando a floresta, não poluindo o ar”, acrescentou.
A carta entregue à ministra contém, segundo Kemia Rodrigues Souza, de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, um resumo de todas as propostas. “A gente resumiu nessa carta [as propostas] para que as pessoas leiam e se conscientizem para mudar o mundo”, disse. Já a gaucha Ana Claudia da Silva pediu à ministra a adoção de medidas que diminuam a aplicação de agrotóxicos nas lavouras. “Isso faz muito mal à saúde”, alertou.
Xuxa lamentou que as pessoas não ouçam mais o que as crianças têm a dizer. “Está todo mundo preocupado com o agora, com o presente. Só que as mudanças só vão ser feitas no futuro. E eles [crianças] são o futuro. Eles deixaram claro na carta que precisam de informação, saber o que têm de fazer. As crianças querem ser informadas, porque elas é que vão fazer a mudança”, declarou. A apresentadora da TV Globo pediu à ministra que dê solução para os problemas relatados no documento pelas crianças. “É diferente de nós, que precisamos de uma solução para agora. Eles precisam de uma solução para sempre”, ressaltou.
A ministra do Meio Ambiente destacou a importância de as crianças e os jovens que representam hoje um quarto da população do Brasil se preocuparem com as questões ambientais. As queixas formuladas pelas crianças “são parte da minha luta”, disse Izabella Teixeira.
“Eles vão transformar os padrões de consumo, eles vão pedir: eu quero comer melhor. O mundo espera que o Brasil produza 20 % de todo o alimento necessário ao aumento populacional até 2050. Estou falando de 9 bilhões de pessoas no planeta. Vinte por cento desses alimentos sairão do Brasil”.
A ministra assegurou que o Brasil pode fazer isso, “sem destruir floresta, sem contaminar a água, sem usar agrotóxico, colocando agroecologia e ensinando eles [crianças]”. São elas, destacou Izabella Teixeira, que têm que dizer: “Nós queremos desse jeito. São eles que vão fazer a transformação, a partir de agora”.
A ministra disse que a Carta das Crianças para a Terra será divulgada no site do ministério. Elas declarou ainda que as crianças e os jovens têm um espaço no ministério para debater as políticas públicas. “Vão para lá fazer conferências, debates, e vão me cobrar isso”. E prometeu que será feita uma reunião anual com as crianças para saber o que “andou ou não andou, como andou, porque é assim que a gente transforma. É isso que movimenta”.
Edição: Aécio Amado