Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Ir ao museu pode parecer um programa chato e pouco atraente para muitas pessoas. O presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vinculado ao Ministério da Cultura, José Nascimento Júnior, admitiu à Agência Brasil (ABr) que a queixa é procedente. “Sinceramente? [Acho] que essas pessoas têm razão. Há vários museus que são muito chatos”. Para mudar essa impressão será realizada, de de 16 a 20 de maio, a 10ª Semana dos Museus que envolve 1.114 instituições culturais em todo o país com a programação de 3.420 eventos, que vão desde visitas guiadas até apresentações de filmes e espetáculos.
A seguir, os principais trechos da entrevista de Nascimento à ABr.
ABr – É comum ouvir de algumas pessoas que ir ao museu é chato e pouco atraente. Quando o senhor escuta isso, o que lhe vem à mente?
José Nascimento Júnior – Sinceramente? [Acho] que essas pessoas têm razão. Há vários museus que são muito chatos. Existem vários museus que têm de ser repensados. Mas esse quadro tem melhorado. As instituições culturais têm revisto muitos aspectos e a questão sempre está em debate. Em 2012, completamos dez anos de [novas] políticas de infraestrutura de museus destinada a mudar um conjunto de situações.
ABr – Em geral, a queixa dos que atuam na área cultural é sobre a falta de investimentos. A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, disse que o orçamento de cerca de R$ 2 bilhões para este ano é o maior da história recente, mas o senhor acredita que ainda é insuficiente?
Nascimento – Infelizmente ainda não se compreendeu no país que investir em cultura deve estar entre as prioridades. Não há países com grandes economias que não investem em cultura. Precisamos, todos, aprender a enxergar a cultura de outra forma. O Brasil é a sexta economia mundial; graças aos esforços coletivos conquistamos mais igualdade social e a inclusão tem ocorrido, mas é preciso avançar.
ABr – É visando o que o senhor chama de “repensar” e “recriar” que ocorrerá a 10ª Semana dos Museus em todo o país?
Nascimento – Exatamente. A 10ª Semana dos Museus, cujo tema é Museus em um Mundo em Transformação: Novos Desafios, Novas Inspirações, pretende incentivar cada vez mais as pessoas para que conheçam e gostem da vida cultural. A programação envolve 1.114 museus e instituições culturais em todo o país em 3.420 eventos. São visitas guiadas, apresentações de filmes e espetáculos. O brasileiro sempre teve interesse em cultura, mas não tinha condições de vivenciar isso, agora com as novas políticas culturais essa situação tem sido modificada.
ABr – Dá para reverter uma má experiência com museus, por exemplo, a pessoa foi e não gostou?
Nascimento – São essas pessoas também que estão entre os nossos convidados da 10ª Semana dos Museus. Meu apelo é: mesmo aqueles que fizeram uma má visita a um museu, que por uma ou outra razão não gostaram, por favor, voltem e tentem novamente. Vale a pena. Vamos tentar e comemorar os dez anos de novas políticas culturais no país.
ABr – O Ibram dispõe de informações que as pessoas estão se interessando mais para ir aos museus e consumir cultura de forma geral?
Nascimento – Sim. O brasileiro sempre gostou de arte. Por exemplo, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) no Rio de Janeiro está entre as 12 instituições [culturais] mais visitadas no mundo. O interesse do brasileiro pela área cultural como um todo vem melhorando, o que inclui o consumo por cultura. Imagine quanto um trabalhador que tem família – mulher, marido e dois filhos, por exemplo – gasta para consumir cultura? É um custo alto. Os nossos esforços agora são para baratear cada vez mais e garantir que o brasileiro tenha mais acesso [à vida cultural]. Esse é um dos nossos desafios.
ABr – Consumir cultura também estimula um lado negativo que é o relacionado ao roubo de peças
dos museus, volta e meia há relatos sobre isso. Como lidar com esse mercado negro?
Nascimento – Trabalhamos em parceria do Ibram com a Receita Federal e a Polícia Federal. Há um Cadastro de Bens Musealizados Desaparecidos por meio do qual estão registradas as obras e peças que não se encontram nas [respectivas] instituições. Qualquer um pode denunciar. Tentamos montar uma espécie de cadeia nacional de segurança para poder evitar e conter esses episódios [relativos aos roubos]. Existe ainda um trabalho de conscientização e integração com as polícias estaduais. Nada disso pode ser isolado.
Edição: Graça Adjuto//Matéria alterada para corrigir informação.