Ex-presidente da YPF diz que nacionalização não será suficiente, Argentina terá de investir em energia

26/04/2012 - 17h52

Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
 

Buenos Aires – A Argentina terá de investir anualmente US$ 15 bilhões, durante os próximos três anos, para voltar a produzir energia suficiente para consumo próprio, informou o ex-secretário de Energia no país e ex-presidente da petrolífera espanhola YPF, Daniel Montamat.

“Essa soma equivale a 3 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) e o governo não pode fazer esse investimento sozinho. Se quiser reverter a crise energética, terá que implementar políticas de longo prazo, para atrair investimentos”, disse Montamat em entrevista à Agência Brasil.

A crise energética levou a presidenta argentina Cristina Kirchner a propor ao Congresso um projeto de lei para a expropriação de 51% das ações da YPF, que pertence ao grupo Refineria de Petróleos de Escombreras Oil (Repsol), da Espanha. O projeto foi aprovado na madrugada de hoje (26) pelo Senado, o que deve ser confirmado na próxima quarta-feira (2) pela Câmara dos Deputados.

Segundo Montamat, a expropriação em si não resolve os problemas da crise no país. A falta de investimentos na exploração e na produção de gás e petróleo e os altos índices de crescimento econômico (média de 7% ao ano, desde 2003) obrigaram a Argentina a importar US$ 9 bilhões em energia em 2011 – equivalente quase à totalidade do saldo da balança comercial do país, de US$ 10,5 bilhões.

Outro problema é que , no país, cada milhão de Unidade Térmica Britânica (BTU, em inglês), unidade de medida de gás, custa US$ 2,75. A Argentina importa o produto da Bolívia, no entanto, por US$ 12 – cinco vezes mais.

“É uma crise grave porque afeta o equilíbrio das contas externas argentinas e também os gastos públicos. Pagamos preços internacionais para importar energia que são muito superiores ao cobrado na Argentina. Resultado: o governo tem que pagar a diferença para manter os preços internos baixos. Isso afeta suas contas públicas”, explicou o ex-presidente da YPF.

A presidenta Cristina Kirchner (eleita em 2007 e reeleita em 2011) culpou o grupo Repsol pela escassez de combustível no país. Segundo ela, os lucros foram repatriados pela empresa sem que se investisse na exploração e na produção dos produtos em território argentino. De acordo Montamat, a culpabilização da empresa não é justificável, pois a produção da YPF representa apenas 30% da produção de petróleo e gás no país.

A Repsol, grupo ao qual a YPS pertence, diz que de 1999 a 2011 investiu US$ 20 bilhões na Argentina. Ontem (25), os interventores do governo argentino, que assumiram o controle da empresa, emitiram um comunicado acusando a empresa espanhola de ter tido uma “conduta depredatória” no país.

“Entre 1999 e 2011, as reservas de petróleo da YPF sofreram 40,5% de redução e as de gás, 47,1%. Ao mesmo tempo, a produção de petróleo caiu 38,3% e a produção de gás 25,4%”, informa o comunicado.

A senadora oposicionista Maria Eugenia Paz Estenssoro, que se absteve na votação sobre a expropriação no Senado, disse que era “simplista” culpar a Repsol por todos os males. Ela explicou que existem 14 empresas petrolíferas em operação no país e que nove delas – a Petrobras, inclusive – tiveram queda de produção “maiores ou comparáveis” às da YPF.

A YPF é uma empresa hispano-argentina. Em 2007, com o aval do governo, a Repsol vendeu ações ao grupo argentino Petersen (da família Eskenazi), que hoje tem 25,4% do total. Como os argentinos não tinham recursos para financiar a totalidade da compra, negociaram o pagamento por meio de futuros lucros da empresa – o que os levou a contrair uma dívida.

Edição: Carolina Sarres