Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires – Seis de cada dez argentinos apoiam a decisão de expropriar 51% das ações da empresa petrolífera YPF, administrada pela Repsol, anunciada há uma semana pela presidenta Cristina Kirchner. Segundo pesquisa de opinião da consultoria Poliarquia, 44% dos entrevistados, no entanto, culpam os Kirchner (no poder desde 2003) pela crise energética do país. Apenas 36% atribuem a queda da produção de combustível, que transformou a Argentina em país importador de energia, à iniciativa privada.
Uma semana depois do anúncio do projeto de lei de expropriação, o governo garante que ele passará no Congresso, onde conta com a maioria. A primeira votação, no Senado, será nesta quarta-feira (25). Até o ex-presidente Carlos Menem, responsável pela privatização da estatal YPF nos anos 1990, diz que votará a favor da medida, devolvendo as ações da empresa espanhola Repsol ao Estado argentino. “Os tempos mudaram”, justificou Menem, senador do Bloco Federalismo e Liberação (uma dissidência do Partido Justicialista ou Peronista).
Apesar de contar com apoio popular e político, a expropriação anunciada por Cristina Kirchner está sendo questionada por especialistas. Todos concordam que a Repsol repatriava os lucros da empresa, sem investir na exploração de novas reservas de petróleo e gás e na produção de combustível. Resultado: em 2011, importou o equivalente a US$ 9 bilhões em energia, que podia ter produzido. A soma equivale a quase todo o saldo da balança comercial do país, que no ano passado foi US$ 10 bilhões. Este ano, estima-se que as importações de energia ficarão entre US$ 12 e US$ 14 bilhões.
“Já sabíamos, há algum tempo, que haveria uma crise energética. Ninguém questiona que a situação é grave. Mas, a pergunta que temos que fazer é: a expropriação da YPF resolve esse problema?”, disse à Agencia Brasil o economista Fausto Spotorno. “Na minha opinião, precisamos de importantes investimentos para retomar a exploração e a produção de energia. Não acho que expropriar ações de uma empresa privada seja a melhor forma de atrair novos investimentos”.
Para o ex-secretário de Energia Daniel Montamat, a expropriação não basta para resolver o problema. O governo precisa definir desde já uma política energética de longo prazo, que leve em conta todas as variáveis, entre elas o preço do combustível no mercado interno.
Ele lembrou que logo depois da crise de 2001 (que desvalorizou o peso), os preços da energia foram congelados até que o poder de compra dos assalariados argentinos pudesse ser reestabelecido. O problema, diz Montamat, é que o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) manteve o congelamento. Sua mulher e sucessora, Cristina, só decidiu rever os subsídios à energia no ano passado, quando foi reeleita presidenta e quando a Argentina passou a importar combustível.
Outro problema a ser resolvido é o preço que a Argentina pagará à Repsol pelas ações expropriadas. A empresa espanhola quer, no mínimo, US$ 10 bilhões. O governo argentino avisou que não pagará essa soma. O economista Roberto Kozulj dá razão à presidenta Cristina Kirchner. Segundo ele, a Repsol já lucrou o bastante e não investiu o suficiente no país.
O porta-voz da Repsol, Kristian Rix, avisou nessa segunda-feira (23) que a empresa pode tomar “medidas legais” contra qualquer um que invista na YPF, já que a petrolífera foi “expropriada ilegalmente”. No mesmo dia, o secretário de Planejamento da Argentina, Júlio de Vido (um dos dois interventores do governo na empresa) manteve reuniões com diretores de várias petrolíferas, entre elas a ConocoPhillips, a Chevron e a Medanito.
Ao fim do encontro, o presidente da Medanito, Emilio Carosio, disse que propôs aumentar a produção de petróleo e gás na província de Neuquén. Na semana passada, Vido esteve no Brasil para se encontrar com a presidenta Dilma Rousseff, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e a presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster.
Edição: Graça Adjuto