BB e Caixa têm “gordura” para queimar com juros e crédito, diz professor da UnB

09/04/2012 - 19h39

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A redução dos juros nas operações de crédito para pessoa física e empresas de pequeno porte, a partir de hoje (9), na Caixa Econômica Federal, e na próxima quinta-feira (12), no Banco do Brasil (BB), é uma estratégia que busca compensar a perda de rentabilidade com ganhos na escala de mercado, viabilizados pelo aumento da clientela e consequente aumento do volume de operações, segundo o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.

Ele disse que tem observado “discreto” aumento da participação dos bancos oficiais na oferta de crédito, em relação aos bancos privados nacionais e estrangeiros, e lhe “parece que os bancos públicos têm gordura para queimar” na concorrência direta com os “bancões”, como são tratados no Sistema Financeiro Nacional (SFN), pela ordem de ativos, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC.

No entender de Piscitelli, “pode dar certo” o estratagema montado pelo governo para induzir os banqueiros a reduzir as margens de ganho definidas nos altos spreads (diferença entre os juros que o banco paga ao aplicador e os juros que cobra nos empréstimos). Embora desconheça qualquer sinalização dos bancos privados no sentido de acompanhar o BB e a Caixa, Piscitelli acredita que “de alguma forma [a redução dos juros e ampliação do crédito] terão reflexo na ponta”.

A posição dos banqueiros será discutida amanhã (10) em reunião dos dirigentes da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), no início da tarde, com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Até lá o assunto continuará envolto em mistério, mas o professor arrisca que os bancos vão prometer baixar o spread, desde que o governo diminua também os níveis de exigibilidade bancária (dinheiro dos depósitos à vista e a prazo que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central ).

Piscitelli vê, porém, com “reserva e cautela”, a ampliação da oferta de crédito, e diz que não se pode ignorar a possibilidade de efeitos inflacionários com mais dinheiro no mercado para consumo. Segundo ele, “existe preocupação com uma certa liberalidade do crédito, que não pode ser promovido de forma indiscriminada”.

Ele manifesta estranheza, por exemplo, em relação aos recursos tomados pelo Tesouro Nacional, via colocação de títulos públicos no mercado, a juros médios de 12%, e os repassa ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que empresta o mesmo dinheiro às grandes empresas com a taxa de juros de longo prazo (TJLP), de 6% ao ano. “Não dá para explicar o repasse a juros subsidiados”, ressaltou.

 

Edição: Aécio Amado