Barco de jornalista brasileiro naufraga na Antártica

08/04/2012 - 18h31

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O barco de bandeira brasileira Mar sem Fim naufragou na Antártica neste sábado (7), de acordo com informações divulgadas pela Marinha. Ninguém ficou ferido. O barco, do jornalista João Lara Mesquista, afundou na Baía Maxwel, em frente à Base Chilena Presidente Eduardo Frei Montalva. Os quatro tripulantes, que gravavam um documentário na região, foram levados para a base chilena antes do naufrágio. "Pelo Mar sem Fim fizemos o que foi possível", escreveu o jornalista no diário de bordo que mantém na internet.

Acredita-se que o acúmulo de gelo comprimiu o barco, levando-o a afundar. De acordo com a Marinha, navios brasileiros ainda não conseguiram chegar ao local do naufrágio por causa da grande quantidade de gelo no mar. Com apoio dos chilenos, os militares estão adotando medidas para evitar danos ambientais.

O Mar sem Fim passou os últimos três anos baseado em Ushuaia, a cidade argentina mais ao Sul do continente, ponto de partida para uma série de documentários do jornalista João Lara Mesquita na Antártica. No dia 9 de março, partiu para a última viagem. O relato dessa expedição está publicado no sítio Mar sem Fim, que o jornalista mantém na internet. Antes de deixar a embarcação, Mesquita descreveu as péssimas condições climáticas que ele e a tripulação enfrentavam: "Tensão. Frio na barriga. Sensação de ínfima pequenez diante da poderosa força dos elementos que nos cercam: frio glacial, ventania, ondas desencontradas, barulhos estranhos e incomuns".

O barco enfrentou temperaturas abaixo dos 6 graus Celsius (ºC) negativos e rajadas de vento que ultrapassavam os 100 quilômetros por hora. "Foi assim durante 48 horas. Só parou nesta última noite", escreveu o jornalista, antes de ser resgatado.

Já na Base Presidente Eduardo Frei Montalva, Mesquita previu o destino do Mar sem Fim. Na última postagem, datada do dia 5 de abril, o jornalista contou que os chilenos, diante da entrada de ventos fortíssimos na região, já esperavam pelo naufrágio do iate brasileiro, cuja luta contra a tormenta podia ser acompanhada do continente. "O comandante [da base] nos contou que há dois dias eles esperavam nosso naufrágio nas pedras para qualquer momento. Dormiam com as roupas secas ao lado da cama, enquanto um deles vigiava nossas manobras. O Mar sem Fim agora luta sozinho. Hoje, a temperatura desceu para menos 9ºC. O furacão deve entrar esta noite ou de madrugada. São esperados 80 nós de vento [cerca de 150 quilômetros por hora]. A temperatura deve cair para menos 14ºC. Nunca torci tanto para uma previsão estar errada. Este será o dia decisivo para o Mar sem Fim."

Em fevereiro deste ano, um incêndio destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, base militar e de pesquisa operada pela Marinha Brasileira. Dois militares morreram e um ficou ferido na tentativa de apagar as chamas na casa de máquinas, onde o incêndio começou. O governo federal liberou R$ 40 milhões para a reconstrução da base.

Edição: Vinicius Doria