Dilma tentará conter insatisfação da base aliada com reuniões partido a partido, diz líder do governo

08/03/2012 - 16h28

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Um dia depois de a presidenta Dilma Rousseff sofrer a primeira derrota imposta pela sua base aliada no Senado, em especial o PMDB, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que estão previstas conversas da presidenta com as bancadas de cada partido da aliança política.

Ontem (7), a indicação, pelo Executivo, do nome de Bernardo Figueiredo para ocupar o cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foi rejeitada pelo Senado por 36 votos, sendo a maioria deles de parlamentares governistas. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) chegou a apresentar requerimento para adiar a votação da matéria, mas, como o pedido foi derrotado, o presidente do Senado, José Sarney, colocou a mensagem presidencial com o nome de Figueiredo em votação.

"O governo terá que correr atrás do prejuízo. O PMDB, por ser o maior partido, foi o que teve maior número de senadores [que votaram contra a indicação presidencial], mas, proporcionalmente ao tamanho de cada bancada, ficou claro que se trata de uma insatisfação generalizada, que precisa ser estancada", destacou o líder.

Perguntado quando seriam iniciadas as conversas com os partidos aliados, ele disse que depende apenas da presidenta marcar. Nesses encontros, estaria presente, também, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

O senador disse que o governo já tinha conhecimento dessa insatisfação crescente dos senadores aliados, de vários partidos, há algum tempo. Segundo Jucá, os líderes partidários levam permanentemente reclamações pontuais de suas bancadas, de parlamentares que não são recebidos por ministros. Há queixas também de que os telefonemas dados às autoridades não são retornados e que os pedidos de nomeações de cargos nos estados não são atendidos. Além disso, há uma certa demora no cumprimento de "questões orçamentárias", segundo Jucá.

Para o líder do PCdoB, Inácio Arruda (CE), que votou contra o requerimento de adiamento da votação, as insatisfações dos aliados passam também por uma luta dos partidos por mais representatividade no governo, seja na Esplanada dos Ministérios ou em cargos de segundo escalão. "Sempre haverá essa luta por mais espaço na base, uma vez que não existe uma legenda que, sozinha, seja capaz de dar sustentação política ao governo”, disse.

Inácio Arruda ressaltou que, na votação de ontem pela rejeição do nome de Figueiredo, faltou diálogo na base aliada para adiar a votação. Como Jucá, o líder do PCdoB defende que as bancadas sejam recebidas separadamente pelo governo para discutir "problemas pontuais" de cada parlamentar. "Tem coisas que não dá para discutir no 'conselhão' [nome dado ao Conselho Político do governo], que tem o papel de analisar as macropolíticas e prioridades legislativas do Executivo".

Passada a derrota política imposta pelo Senado ao governo, o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), considera que é hora de aproveitar o episódio para ampliar os canais de interlocução e convivência entre os partidos aliados. Ele defende "um freio de arrumação", neste momento, para que os líderes façam uma avaliação do que pode ser feito daqui para adiante.

Hoje, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) solicitou pedido de vista, na Comissão de Infraestrutura, das mensagens presidenciais que indicam mais dois diretores para a ANTT, Hederverton Andrade Santos e Mario Rodrigues Júnior. A presidenta da comissão, Lúcia Vânia (PSDB-GO), concedeu vista coletiva, ou seja, para todos os parlamentares. Assim, as mensagens retornam à pauta na reunião da próxima quinta-feira (15). Segundo ela, o adiamento das votações servirá para que os relatores analisem melhor as indicações, além de dar autonomia à presidenta Dilma para trocar os nomes, se for o caso.

Edição: Lana Cristina