Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Reduzir as taxas de incidência da tuberculose no Rio de Janeiro é fundamental para mudar o panorama da enfermidade no país, segundo avaliação do coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. Para ele, o fortalecimento do sistema de atenção básica, como a expansão das clínicas da família na capital fluminense, é o principal fator que pode contribuir para isso.
A cada ano são notificados aproximadamente 11 mil casos da doença no estado, que lidera o ranking de incidência nacional da doença: mais de 70 ocorrências por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional (37,7 casos por 100 mil habitantes). O Brasil tem até 2015 para contabilizar 25,8 casos por 100 mil habitantes, conforme um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“A gente vê com bastante expectativa esse movimento de fortalecimento da atenção básica, como a expansão das clínicas da família, cujos profissionais conhecem de perto esse portador [da doença], os hábitos de vida, a casa. Eles têm a capacidade de interferir positivamente na relação dessa pessoa com seus hábitos de saúde”, explicou Barreira.
Segundo ele, o Rio de Janeiro tem não só a maior incidência da doença, como concentra, em números absolutos, o maior número de casos do país. "Então, se mudar a realidade do estado e do município, que concentra metade dos casos do estado, vai mudar o panorama da tuberculose no país."
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, foram inauguradas, nos últimos quatro anos, 56 clínicas da família, permitindo uma ampliação da cobertura de 3,5% para 31,6% nesse período, o que representa cerca de dois milhões de pessoas assistidas pela estratégia.
A superintendente de Unidades de Saúde da secretaria municipal, Betina Durovni, explica que o grande diferencial desse projeto, que integra o Programa Saúde da Família (PSF), do governo federal, é a proximidade dos profissionais e pacientes, que podem monitorar melhor a continuidade do tratamento.
“A expansão da atenção primária por meio das clínicas da família é um passo fundamental para o controle da tuberculose e de outras doenças. O papel dos agentes comunitários, da supervisão do tratamento e da proximidade [entre profissionais e pacientes] é fundamental para elevar os índices de cura da doença."
Para o diretor do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, ligado à Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Miguel Aiub, a redução nos índices da doença dependem de um acolhimento eficiente pelo serviço de saúde, o que inclui acesso facilitado e continuidade do tratamento, que leva em média seis meses, mas também da melhoria da qualidade de vida principalmente da população que vive em comunidades carentes.
“As clínicas da família ajudam porque com o tratamento adequado, evita-se que novas pessoas sejam contaminadas. Mas é preciso também que as populações vulneráveis, como as que moram em favelas, tenham melhorias na qualidade de vida. Os índices de maior incidência estão localizado em populações mais empobrecidas, de rua, e indígenas, por exemplo", explicou.
O coordenador da comissão de tuberculose da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio, Marcos Conde, acrescentou que em regiões onde há bolsões de pobreza a busca ativa por pacientes contaminados é decisiva.
“Em geral, esses locais são pouco ventilados, há pouca entrada de luz solar e, por isso, são mais propícios aos casos de tuberculose. A busca por pacientes contaminados é importante porque numa situação de tantos problemas sociais, a tosse, um dos principais sintomas da doença, acaba sendo um problema menor para essa parcela da população, que acaba demorando para buscar atendimento e a doença vai se propagando”, destacou.
Edição: Andréa Quintiere