Policia investiga se há vínculo entre assassinato de jornalista em Ponta Porã e ameaça a repórter paraguaio

14/02/2012 - 16h17

 

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul vai apurar se o assassinato do jornalista Paulo Rocaro tem alguma ligação com o suposto plano de narcotraficantes que atuam na região fronteiriça de tirar a vida do jornalista paraguaio Cándido Figueredo, do jornal ABC Color, do Paraguai. Segundo o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia de Ponta Porã, Odorico Ribeiro de Mendonça, o jornalista paraguaio será convidado a prestar um depoimento informal a investigadores dos dois países.

“Ainda não há nada que ligue os dois casos, mas os investigadores brasileiros entrarão em contato com as autoridades paraguaias nos próximos dias para obter mais informações”, disse o delegado à Agência Brasil. Já os parentes de Rocaro começam a ser ouvidos a partir de amanhã (15).

Segundo o ABC Color, em janeiro deste ano Cándido Figueredo foi informado por agentes do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, de que traficantes de drogas que atuam na região da fronteira entre Brasil e Paraguai planejavam matá-lo. Em nota em que cobra do governo paraguaio proteção à vida do jornalista, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) assegura que é procedente a informação de que agentes do Gaeco gravaram conversas telefônicas entre um traficante paraguaio e um detento do presídio de Campo Grande (MS).

Por meio da assessoria do Gaeco de Campo Grande, o promotor Marcos Alex de Oliveira negou que o grupo tenha obtido tais gravações e repassado as informações ao jornalista.

Autor de reportagens sobre as rotas fronteiriças usadas por quadrilhas de narcotraficantes, Figueredo é correspondente do diário em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia separada por uma rua do município sul-mato-grossense de Ponta Porã, onde o jornalista Paulo Rocaro foi alvo de um atentado na noite de domingo (12). Além de fundador do site Mercosulnews, Rocaro era editor-chefe do Jornal da Praça, onde trabalhava há quase 30 anos.

Documentos da Vara do Trabalho de Ponta Porã indicam que, até recentemente, Fahd Jamil estava entre os acionistas do jornal. Conhecido como o Rei da Fronteira, Jamil foi condenado em 2005 a 20 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Ele está foragido desde então, embora tenha sido inocentado da acusação em 2009. Em 2007, Jamil voltou a ser condenado, dessa vez, por sonegação fiscal. A pena inicial, de 12 anos e seis meses de prisão foi, posteriormente, revista para dez anos e seis meses. Ontem (13), o delegado Clemir Vieira Júnior disse à Agência Brasil que o assassinato de Rocaro tem características de crime por encomenda, mas que, inicialmente, não via ligação com o fato de o jornal em que Rocaro trabalhava já ter pertencido a Jamil.

Rocaro foi o segundo jornalista brasileiro morto em apenas quatro dias. Antes dele, na quinta-feira (9), o jornalista Mario Randolfo Marques Lopes e a companheira dele, Maria Aparecida Guimarães, foram mortos na cidade fluminense de Barra do Piraí (RJ). Entidades profissionais e de defesa dos direitos humanos, como a Sociedade Interamericana de Imprensa e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), condenaram os assassinatos e cobraram medidas para garantir a segurança dos profissionais da imprensa.

Edição: Vinicius Doria