Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Das 128 famílias que ocupavam um hotel desativado na esquina da Rua Conselheiro Nébias com a Rua Vitória, na região central da capital paulista, e retiradas do prédio hoje (9) por força de ordem judicial de reintegração de posse, 105 pegaram senhas para passar por cadastramento da prefeitura. Elas deverão ser incluídas em programas habitacionais do município.
Carmem da Silva Ferreira, da coordenação da Frente de Luta por Moradia (FLM), disse que o cadastramento é demorado e que parte das famílias retiradas do prédio precisa com urgência de moradias, pois não tem onde ficar. “Das 128 famílias, 75 não têm onde morar. O restante foi para a casa de parentes morar de favor até conseguir resolver essa questão. A prefeitura propôs a essas famílias que fossem para abrigos, mas nossas famílias não têm perfil para abrigos porque esses locais separam a família. Se a prefeitura nos oferecesse um local que agregasse a todos, aceitaríamos”, disse.
É o caso da desempregada Fabiana Borges dos Santos. Ela que trabalhava como ajudante de cozinha disse que ocupava o prédio por não ter condições de pagar um aluguel. “Eu não tinha onde morar, conheci o movimento e vim para cá. Como não tenho para onde ir, vou para a calçada, possivelmente para o acampamento da Avenida São João”. Fabiana disse esperar que a prefeitura auxilie sua família.
Segundo a FLM, cerca de 200 famílias estão acampadas na Avenida São João há oito dias desde que deixaram o prédio que ocupavam na Avenida Ipiranga.
Maria de Fátima Sales Simões, de 48 anos, é um dessas famílias. É enfermeira e está desempregada. Ela está no acampamento com o seu filho, de 23 anos, que tem problemas psiquiátricos. “Eu vim para cá porque realmente não tenho para onde ir. Não posso trabalhar porque ele precisa de cuidados, e não pode ficar sozinho”. Maria de Fátima disse ter expectativa de que as autoridades atendam as famílias acampadas. “A vida aqui tem sido muito difícil porque estamos expostos a tudo. Ficamos muito vulneráveis aqui”.
A Secretaria Municipal de Habitação informou, por meio de nota, que as famílias acampadas na Avenida São João, podem ir, se assim desejarem, para um abrigo municipal. Declara ainda que foi feita uma listagem para posterior cadastramento e inclusão nos programas habitacionais. "A Justiça entendeu que a prefeitura tem obrigação de conceder abrigo às famílias e incluí-las nos programas habitacionais, mas que é preciso respeitar a ordem de atendimento habitacional, cujos critérios foram aprovados pelo Conselho Municipal de Habitação”.
Na nota, a secretaria ressalta que “a Justiça entendeu, ainda, que garantir moradia no centro, como reivindica a FLM, seria injusto com os munícipes cadastrados na Cohab, que somam cerca de 1 milhão de famílias inscritas, que também aguardam moradia, mas nem por isso ocuparam imóveis particulares”, diz a nota.
A Sehab informou também que atualmente 2.408 famílias ligadas à FLM recebem algum atendimento habitacional da prefeitura (aluguel social, parceria social, unidades habitacionais ou cartas de crédito para compra de moradias). “A prefeitura reafirma seu compromisso de atendimento, mas frisa que, diferentemente do que afirmam lideranças da FLM, a municipalidade atende famílias integrantes do movimento, sim, que representam investimentos mensais de R$ 320 mil, ou mais de R$ 3,5 milhões do orçamento anual da Sehab”.
Edição: Aécio Amado