Protecionismo gera perdas no longo prazo, dizem economistas

02/02/2012 - 20h03

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A intensificação das medidas protecionistas, como a exigência de licença de importação para mercadorias entrarem na Argentina e a elevação de impostos sobre veículos de fora do Mercosul no Brasil, resulta em perdas para os países envolvidos no médio e longo prazo. Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, as decisões que visam a proteger o mercado interno podem trazer ganhos imediatos, mas essa vantagem se perde na deterioração da competitividade da economia e na redução de trocas comerciais.

Na avaliação do professor Carlos Pereira, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), medidas como a criação de cotas de importações ou a exigência de aprovação do governo para a entrada de mercadorias externas, como ocorreu na Argentina, têm reflexos nos países vizinhos e põe em xeque o funcionamento do Mercosul.

“Toda a engenharia institucional do Mercosul está em risco. Medidas como essas sinalizam que o arcabouço institucional não tem sido mais capaz de resolver os conflitos comerciais. É normal que esses atritos aconteçam, mas sempre houve mecanismos dentro do próprio Mercosul para resolvê-los”.

Em relação aos efeitos sobre a produtividade, o economista declara que a proteção da indústria nacional reduz a eficiência dos fabricantes. Isso porque a falta de concorrência com os produtos estrangeiros diminui a qualidade e encarece as mercadorias protegidas, além de tornar a produção e o comércio sujeitos a interesses políticos. “A sensação do ganho no curto prazo é enganadora porque gera benefício menor do que os ganhos do mercado livre no longo prazo. Os atores políticos preferem ganhar no curto prazo”.

Sobre as medidas adotadas pelo Brasil, Pereira critica o reajuste do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos importados, em vigor desde dezembro. Para ele, o governo se submeteu à pressão das montadoras ao concordar com a elevação do tributo, em vez de criar incentivos para a modernização dos veículos nacionais. “O caminho mais eficaz [para enfrentar a concorrência com os importados] seria a criação de linhas de crédito e de incentivos fiscais para as montadoras que investem em tecnologia”.

Professora titular do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), Leda Paulani diz que os impactos da proteção comercial sobre o Brasil é agravado pelo câmbio, que está em queda. Segundo ela, a combinação do protecionismo com a apreciação cambial prejudica, não apenas as vendas externas da indústria nacional, mas as próprias exportações do setor agrícola.

“Em relação aos bens de menor valor agregado [como bens agropecuários e produtos manufaturados de baixo valor], o Brasil continua enfrentando a concorrência de países como a China. No caso dos bens de maior valor agregado, o protecionismo desestimula o país a dominar a tecnologia e o pouco que se exporta pode se perder”.
 

Edição: Rivadavia Severo