Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A montadora Ford, de capital norte-americano, anunciou hoje (4) a produção global de um modelo de utilitário esportivo, o EcoSport, projetado por cerca de 1,2 mil engenheiros brasileiros e argentinos no centro de desenvolvimento da companhia em Camaçari, na Bahia. O carro, que deverá ser vendido em 100 países, será produzido nas fábricas da Ford na Bahia, na Tailândia e na Índia – onde o modelo foi também apresentado, simultaneamente ao evento em Brasília, no Salão do Automóvel de Nova Déli.
O governo festejou o anúncio: “nós já tivemos no passado modelos desenvolvidos no Brasil. O Brasil está reconquistando essa condição pela força da sua economia”, afirmou o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante. “O Brasil vai crescer e mostra que quer crescer com outra qualidade, por exemplo, atraindo centros de pesquisa e de desenvolvimento das indústrias mais importantes”, ressaltou.
Para o governador da Bahia, Jaques Wagner, o anúncio da montadora indica que a indústria brasileira pode agregar valor a seus produtos. “É um produto nosso que está virando item de exportação. Essa é uma mudança de patamar importante e alinhada com o pensamento da presidenta da República [Dilma Rousseff], que quer fazer do Brasil não uma plataforma de montagem e produção, mas uma plataforma de tecnologia, engenharia e design”.
A notícia da produção do novo modelo de automóvel no Brasil surge um ano antes de entrar em vigor a nova política industrial automotiva, que assegurará isenções de impostos à montadoras que investirem pelo menos 0,5% do seu faturamento em pesquisa e inovação, e produzirem carros com 65% das peças fabricadas no Brasil. “Quando se começa a exigir mais conteúdo local, vincula-se o incentivo fiscal à pesquisa e ao desenvolvimento. Empresas que têm mais tradição no Brasil, mais compromisso e interesse estratégico estão alinhados com essa perspectiva”, destacou Mercadante.
A concepção do carro ou de qualquer outro produto no Brasil não assegura que o dinheiro arrecadado com patentes por empresas multinacionais seja investido no país. “A parte de patentes depende de cada empresa, não é possível impor”, disse o ministro. Ele ressaltou, porém, que, quanto mais engenharia o país tiver, mais patentes vai ter. "Mais royalties vamos receber, menos royalties vamos pagar.”
“O patrimônio é da empresa”, diz o governador Jaques Wagner, lembrando, porém, que “à medida que o lucro for maior aqui, uma parte desse lucro ficará no país”. De acordo com o governador, a fábrica da Ford em Camaçari, inaugurada em 2001, já goza de isenções dos tributos estaduais, que valem até 2015.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) avalia que entre 2011 e 2015 as montadoras instaladas no Brasil investirão cerca de US$ 19 bilhões (média de US$ 3,8 por ano). O país é visto com grande potencial de crescimento para venda de automóveis. A média no Brasil é de seis habitantes por carro no Brasil, enquanto nos Estados Unidos (maior consumidor mundial) a média é de um carro por habitante.
Segundo a Anfavea, entre 2005 e 2011, a produção de carros no Brasil passou de 1,715 milhão de unidades para 3,420 milhões de unidades por ano. O país tem capacidade instalada parade produzir 4,5 milhões de carros por ano. A industria automotiva equivale a 5% do Produto Interno Bruto brasileiro e a um quinto do PIB industrial.
Segundo a direção da Ford, em cinco fábricas no Brasil, a empresa tem cerca de 14 mil empregados e pretende investir nos próximos anos até US$ 4,5 bilhões em modernização das unidades e aumento da produção. A companhia não anunciou quantos empregos o novo modelo poderá gerar. Também não foi informado oficialmente quando o carro chegará ao mercado, nem o preço.
Edição: Nádia Franco