Medidas do governo em 2010, inflação e juros altos explicam desaceleração da economia, diz IBGE

06/12/2011 - 12h50

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A inflação alta, a elevação da taxa de juros até julho deste ano e a adoção de medidas, pelo governo, para frear a economia no final de 2010 são algumas explicações para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país não tenha crescido no terceiro trimestre deste ano, avaliou a gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis.

Entre as chamadas “medidas macroprudenciais” adotadas pelo governo federal no final de 2010 estão o aumento das exigências para a concessão de crédito, que impactaram, por exemplo, no financiamento para a compra de veículos. Isso fez com que as compras de automóveis fossem reduzidas nos primeiros meses do ano e os estoques das montadoras de veículos aumentassem.

Segundo Rebeca Palis, com o aumento dos estoques, as montadoras reduziram a produção de automóveis no terceiro trimestre deste ano e chegaram a dar férias coletivas. Essa queda foi um dos principais motivos que levaram à redução de 1,4% da produção na indústria de transformação e de 0,9% na indústria geral.

A elevação da taxa básica de juros (Selic) de 10,5%, no primeiro trimestre deste ano, para 12,2%, no terceiro trimestre, também contribuíram para a desaceleração da economia.

Apesar da queda na indústria de transformação, outros segmentos como a indústria extrativa mineral (com alta de 0,9%) e a construção civil (com alta de 0,2%) tiveram crescimento. A extrativa mineral foi influenciada pela produção de minério de ferro. Já a construção civil continuou seu bom desempenho, em virtude das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das intervenções para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

A queda na produção da indústria acabou afetando também o setor de serviços, que caiu 0,3%, com destaque para o comércio, que registrou redução de 1%. O que evitou que a economia brasileira registrasse queda no trimestre foi o crescimento de 3,2% da agropecuária, puxada pelo aumento da produtividade de safras como as do feijão, da laranja e da mandioca.

Segundo Rebeca Palis, a economia no terceiro trimestre apresentou uma mudança de comportamento, já que vinha de altas seguidas, como o crescimento de 0,7% no segundo trimestre e de 0,8% no primeiro trimestre deste ano.

“A gente teve uma desaceleração importante da taxa de crescimento, inclusive apresentando crescimento nulo, e houve até uma mudança da estrutura do que vinha acontecendo. Anteriormente, o crescimento da economia estava sendo puxado pelos serviços. Nesse terceiro trimestre, foi puxado pela agropecuária”, disse.

Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias caiu em 0,1% na comparação do terceiro com o segundo trimestre deste ano, em parte devido à desvalorização da renda familiar por conta da alta da inflação, cuja taxa anualizada, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 7,31% em setembro.

Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, o consumo das famílias continuou crescendo, pelo 32º trimestre consecutivo, mas a uma taxa mais baixa que em períodos anteriores. Se no primeiro e segundo trimestres, os crescimentos foram de 6% e 5,6%, respectivamente, no terceiro trimestre, a alta foi de apenas 2,8%.

O consumo do governo também caiu (-0,7%), bem como a formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos (-0,2%). “O crescimento [da economia] vinha sendo muito puxado pelos investimentos, muito devido à importação de máquinas e equipamentos, que vinha crescendo bastante. Os investimentos tiveram um desempenho pior que o consumo das famílias, o que não vinha acontecendo”, disse.

O crescimento das exportações foi o único elemento do PIB, sob a ótica da demanda, a apresentar crescimento (1,8%), na comparação do terceiro com o segundo trimestre, resultado que superou, inclusive, as importações, que tiveram queda de 0,4%.

 

 

Edição: Lílian Beraldo