Mesmo com mudança no atendimento, pacientes ainda enfrentam fila em prontos-socorros do DF

09/11/2011 - 14h55

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil


Brasília – Mudanças no protocolo de atendimento de pacientes na rede pública têm causado transtornos para quem procura um pronto-socorro no Distrito Federal. Há quase dois anos, a Secretaria de Saúde adotou um procedimento denominado classificação de risco. Quando chegam ao hospital, os pacientes são avaliados por um enfermeiro, que mede a pressão, a temperatura e faz perguntas para verificar o problema e a gravidade do caso. A maioria das pessoas que procuram atendimento é classificada com a cor verde ou azul – que indicam pouca ou nenhuma gravidade, respectivamente. Com isso, acabam enfrentando horas ou dias de espera. Algumas sequer recebem atendimento.

A equipe de reportagem da Agência Brasil percorreu, na segunda quinzena de outubro, hospitais públicos do DF e constatou que o problema se repete em pelo menos três das 11 unidades regionais administradas pela secretaria. As queixas mais frequentes são a demora no atendimento, a quantidade insuficiente de médicos de plantão e a falta de informação para quem aguarda uma consulta. Muitos reclamam que não sabem a cor em que foram classificados e que a informação fica restrita aos sistemas eletrônicos dos hospitais.

Na noite do último dia 19, o serralheiro Leomário do Carmo, 43 anos, procurou o Hospital Regional do Gama em busca de atendimento para a mulher, que sentia fortes dores abdominais e tontura. Ela chegou a ter um princípio de desmaio no saguão da unidade, mas só foi atendida depois das 11h da manhã do dia seguinte.

No mesmo local, a auxiliar administrativa Luzinete dos Santos, 38 anos, aguardava atendimento para a sobrinha há pelo menos cinco horas. A menina sentia dor de cabeça e de garganta, mas, após ser classificada pela equipe médica com a categoria verde, sabia que as chances de ter o nome chamado diminuiriam.

A assessoria de imprensa do hospital confirmou que as pessoas não são mais atendidas por ordem de chegada e que o novo protocolo tem como objetivo evitar que os pacientes em estado mais grave morram na fila. O órgão admitiu, entretanto, que a demanda de cidades vizinhas e de estados como a Bahia e Minas Gerais, além do número reduzido de médicos, dificulta o atendimento das pessoas que não correm risco iminente.

No Hospital Regional de Santa Maria, a informação repassada pelos próprios funcionários para quem preenchia o cadastro é que não havia previsão para atendimento. “Falaram que eu podia esperar ou ir embora”, contou a cuidadora de idosos Maria Helena Nunes, 32 anos, que se queixava de fortes dores de cabeça.

Na manhã do último dia 20, apenas dois profissionais atendiam na clínica médica da unidade – um tratava pacientes internados enquanto o outro estava responsável pela traumatologia. Quem aguardava no saguão não ouviu nomes serem chamados durante toda a manhã.

No Hospital Regional de Taguatinga, a situação era a mesma – não havia médicos disponíveis para atender os pacientes que não estavam internados, sobretudo os classificados com a cor verde. A assessoria de imprensa da unidade explicou que a demanda de internações era muito grande, mas que pessoas com as categorias amarela e vermelha, de média e alta gravidade, estavam sendo atendidas.

Mesmo recebendo a classificação de cor amarela, o marido de Marivan Pereira, 42 anos, aguardava há mais de quatro horas por uma consulta na unidade. Ele foi picado por um mosquito e teve uma forte reação alérgica.

Já a aposentada Marina Correia, 69 anos, sequer foi informada sobre a categoria em que foi classificada. “Já vim aqui com princípio de trombose, mas não tinha médico. Tive que procurar um hospital particular”, contou.

A explicação dada pela assessoria de imprensa do hospital é que o pronto-socorro tem capacidade para 58 leitos, no entanto, já contabilizava mais de 105 pessoas internadas na terceira semana de outubro. Por essa razão, os médicos realizavam apenas atendimento interno para liberar os leitos.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário adjunto de Saúde do DF, Elias Fernando Miziara, explicou que pacientes em estado menos grave – casos em que, provavelmente, serão classificados com as cores verde ou azul ao buscar atendimento nos hospitais – não devem procurar os pronto-socorros. “O próprio nome está dizendo: é um serviço de emergência, não é de rotina”, disse. “O paciente deveria estar no centro de saúde, em um ambulatório, no [Programa] Saúde da Família, sem nenhum risco. A emergência é feita para casos que dependam de intervenção imediata, para quem tem classificação de risco vermelho e amarelo”, reforçou.

 

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo