Para ativistas, liberação de transgênicos ignora princípio da precaução e não há certeza sobre riscos

23/10/2011 - 11h31

 

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A despeito do avanço tecnológico festejado pelo mercado e por parte da comunidade científica, os produtos transgênicos para consumo humano são vistos com ressalvas por ambientalistas e por ativistas da segurança alimentar. A avaliação é a de que não se conhecem todos os riscos e de que, na dúvida, deveria prevalecer o “princípio da precaução”.

“A gente não é contra os transgênicos, mas contra a forma como estão sendo liberados: sem diagnósticos complementares. Faltam estudos independentes”, aponta José Maria Ferraz, ex-pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O site do Greenpeace, tradicional adversário da tecnologia, acrescenta que “não existe consenso na comunidade científica sobre a segurança dos transgênicos para a saúde humana e o meio ambiente”. Segundo a ONG, “testes de médio e longo prazo, em cobaias e em seres humanos, não são feitos, e geralmente são repudiados pelas empresas de transgênicos”.

Apesar das críticas, o Greenpeace abandonou a campanha contra os transgênicos. “A gente não tem perna para resolver tudo que é guerra na arena ambiental”, disse à Agência Brasil o ex-coordenador da campanha, Iran Magno, que não deixou a reportagem gravar a entrevista. Magno teme que o uso de sementes na lavoura possa gerar o desenvolvimento de “superervas” que exijam mais agrotóxico, e que o insumo possa fazer mal à saúde humana e ao meio ambiente.

Esse ponto é ressaltado também por Gabriel Bianconi Fernandes, da organização não governamental (ONG) especializada em segurança alimentar AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia. Segundo ele, já há, por exemplo, oito espécies de plantas daninhas resistentes ao glifosato (ingrediente ativo de herbicida usado em lavouras de um tipo de soja geneticamente modificada).

O presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva, garante que as sementes transgênicas são “tão seguras quanto a versão convencional” e que a aprovação na comissão, conforme previsto em lei, é extremamente rigorosa e analisa “caso a caso”. “Aprovar um OGM [organismo geneticamente modificado] é extremamente difícil e extremamente caro por causa de tantas exigências que são feitas.”

Ele lembra que o processo de liberação não é imediato e pode levar 12 anos. “Para começar a trabalhar com engenharia genética, tem que ter um certificado de qualidade e biossegurança da CTNBio. Isso no começo da pesquisa em condições de contenção, laboratório ou casa de vegetação. Depois vai ter que ter a liberação planejada no meio ambiente”. A autorização comercial só ocorre depois da avaliação dessas fases.

O coordenador admite que “existem controvérsias” sobre os transgênicos, mas argumenta que “há aqueles que querem viver sob risco zero, segurança absoluta e fomentam o medo e a incerteza. Isso faz parte da democracia. O tempo é o melhor juízo para dizer se a coisa é certa ou não”.

 

Edição: Lílian Beraldo