Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Partido Social Democrático (PSD) nasce da necessidade de alguns quadros políticos se aproximarem do governo e manterem viabilidade eleitoral. A distância do Poder Executivo dificulta o atendimento de pleitos da base de eleitores e impede a participação na distribuição de cargos públicos.
A opinião é compartilhada pelos cientistas políticos Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade de São Paulo (USP) e Rafael Cortez, analista da consultoria Tendência e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo).
Para Rafael Cortez, o PSD será um “partido satélite”, gravitando em torno do Executivo. “O partido precisa encostar no governo para sobreviver eleitoralmente. É muito custoso sobreviver politicamente no Brasil distante do governo”, diz, lembrando que os Democratas e o PSDB passaram por um processo de esvaziamento.
O partido vai acolher pessoas “insatisfeitas” na oposição e que “sabem que na esfera governista têm mais espaço para crescer politicamente”, acrescenta a professora Maria do Socorro. Segundo ela, os neo-pessedistas “têm no horizonte um local no ministério”.
Para Paulo Kramer, quem mais se beneficia com a nova legenda, “além do [prefeito de São Paulo, Gilberto] Kassab é a presidenta Dilma Rousseff. “Tem até uns engraçadinhos dizendo que PSD significa 'Partido Só da Dilma'”, comentou, antes de destacar que o apoio fácil pode ser um problema para o governo.
“Como é uma base pidona, é uma base inorgânica, é uma base fisiológica na maioria dos casos. Eu não sei se é uma bênção ou uma maldição para o governo. Haverá mais gente com reclamações do tipo: Farinha pouca, meu pirão primeiro. É mais gente para pedir”, disse o professor da UnB
Afora a aproximação imediata com o governo, a criação do partido foi movida pelo cenário eleitoral de 2012, especialmente de São Paulo, e até das eleições gerais de 2014. Os cientistas políticos lembram a ligação de Gilberto Kassab com José Serra (PSDB), a quem sucedeu na prefeitura paulistana.
O novo partido pode atuar contra a orientação do governador tucano Geraldo Alckimin nas eleições do próximo ano e até se posicionar em um polo diferente em uma eventual candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República. Os dois tucanos, fortalecidos após a segunda derrota de Serra em campanha presidencial, estão mais próximos de ter hegemonia partidária.
“Acho bem pouco provável o Kassab não ter sinalizado para o Serra a decisão de criar o partido. Eles têm relação estreita”, salientou Rafael Cortez. “Isso seria uma tentativa do Serra para bagunçar a disputa em São Paulo, para minar a força do Alckmin e aumentar poder de barganha na disputa com o Aécio”.´Na opinião de Maria do Socorro Sousa Braga, Serra “pode estar por trás da decisão e das eventuais consequências”.
Os cientistas políticos ainda consideram que o PSD possa vir a apoiar o PSB do governador de Pernambuco Eduardo Campos. “Um partido que nasce atendendo a tantas conveniências, inclusive algumas conflitantes entre si, é um partido fadado ao sucesso”, disse Paulo Kramer.
Edição: João Carlos Rodrigues