Diferença de metodologia explica por que Rio tem ar mais poluído que São Paulo em relatório da OMS, diz Inea

26/09/2011 - 20h00

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A diferença de metodologia de amostragem das redes de monitoramento da qualidade do ar explica, segundo técnicos do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), o resultado de relatório sobre poluição do ar, divulgado hoje (26) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no que se refere às cidades do Rio e de São Paulo.

De acordo com o documento, foi avaliada a qualidade do ar de 1,1 mil cidades do mundo e a capital fluminense aparece com um índice de poluição do ar três vezes superior ao recomendado pela entidade, enquanto em São Paulo o índice é duas vezes superior às recomendações da OMS. Na cidade do Rio de Janeiro, foi encontrada uma taxa de 64 microgramas de poluição por metro cúbico. O ideal, para a OMS, seriam 20 microgramas por metro cúbico.

A gerente de Qualidade do Ar do Inea, Mariana Palagano, disse que essa diferença entre a qualidade do ar no Rio de Janeiro e a da capital paulista, deve-se à maneira como a medição é feita. Segundo ela, em São Paulo a amostragem é automática e feita de forma contínua, de minuto a minuto, e depois integrada em uma média de uma hora.

Já na capital fluminense, a rede do Inea para material particulado é semiautomática, ou seja, os equipamentos realizam uma amostragem a cada seis dias, 24 horas por dia. As amostras são enviadas para laboratórios. “Mais de 90% das nossas estações realizam amostragens desse jeito. A rede de São Paulo é essencialmente automática”. De acordo com a gerente, isso faz com que os valores da amostragem do Rio de Janeiro sejam sempre superestimados em relação às redes automáticas.

Mariana Palagano esclareceu que o principal objetivo da rede do Rio é acompanhar a evolução das emissões veiculares. De acordo com o inventário de fontes do Inea, as emissões veiculares respondem por 60% a 70% das emissões totais. Por essa razão, na opinião da técnica, a localização das estações e a seleção de locais para a amostragem devem ser consideradas quando se faz uma comparação dos resultados com outras redes.

Das 1,1 mil cidades avaliadas, o Rio de Janeiro aparece na 144ª posição entre as mais poluídas, diz o relatório da OMS. Mariana Palagano e o diretor de Informação e Monitoramento Ambiental do Inea, Carlos Fonteles, não negam que a situação ruim no Rio de Janeiro, em relação à qualidade do ar. Eles admitem que será necessário um esforço redobrado para reduzir a poluição do ar devido à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Com objetivo de adotar medidas que amenizem o problema da poluição atmosférica, a presidenta do Inea, Marilene Ramos, criou recentemente um grupo de trabalho que vai rever os padrões de qualidade do ar a serem adotados no estado. A meta é tentar proporcionar uma gestão mais efetiva da qualidade do ar. “Esse grupo tem como principal objetivo avaliar os poluentes legislados e propor valores limite para poluentes que hoje não são legislados, como benzeno, de forma a torná-los mais rigorosos, a exemplo dos valores guia recomendados pela OMS para proteção da saúde da população”, disse.

Ela destacou que a OMS recomenda também metas de redução ao longo do tempo e vai avaliando quanto os locais conseguem reduzir esses poluentes, em termos efetivos, para que sejam estabelecidas novas metas, até que se chegue ao valor recomendado. Os primeiros resultados são esperados para dentro de seis meses. A presidenta do Inea ressaltou, porém, que o trabalho não é só do órgão, mas “vai depender do esforço de toda a sociedade”.

Carlos Fonteles acrescentou que a ideia é trabalhar com todas as redes de monitoramento automáticas de particulas que hoje ainda são manuais. A partir de convênio firmado com a Petrobras e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), será produzido um novo inventário de emissões de redes fixas e móveis. O diretor do Inea estima que esse inventário estará concluído dentro de um ano. Isso permitirá ao Inea fazer comparativos de emissões mais à frente, com base científica.

Além da ampliação da rede de monitoramento, o compromisso firmado pelo governo fluminense com o Comitê Olímpico Internacional (COI) envolve a realização de um monitoramento de ruídos.

 

Edição: Aécio Amado