Desembolsos do BNDES tiveram redução de 5% entre janeiro e julho

06/09/2011 - 19h08

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) caíram 5% entre janeiro e julho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 69,4 bilhões. Divulgado hoje (6), o dado reflete uma estabilidade em relação a 2010, segundo o chefe do Departamento de Orçamento da Área de Planejamento do BNDES, Gabriel Visconti.

De acordo com o BNDES, os desembolsos deverão apresentar, este ano, valor similar ao registrado no ano passado, em torno de R$ 146 bilhões. O número não considera a operação de capitalização da Petrobras, feita em setembro de 2010, no montante de R$ 24,8 bilhões.

Visconti esclareceu que esse número “está de acordo com a estratégia do banco de evitar mais um ano de crescimento expressivo em relação a anos anteriores. A proposta sempre foi, em 2011, de estabilidade dos desembolsos”.

Para o economista João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), o fato de a economia brasileira estar crescendo menos do que em 2010 explica a redução dos desembolsos do BNDES. “A queda é razoável. No ano passado, a economia estava crescendo a um ritmo de 7,5% e está crescendo a um ritmo de 4% este ano. Então, é esperado que os desembolsos tenham um volume menor em 2011, em relação a 2010”.

O BNDES espera que outras instituições, como bancos privados e bancos de desenvolvimento, possam, no médio prazo, sustentar também o crescimento do país, com investimentos de longo prazo, assinalou Visconti. Já João Sicsú não acredita que a diminuição das liberações seja estratégia para abrir espaço a financiamentos privados para o setor produtivo nacional.

“Não que esse não seja um desejo do BNDES, do governo, nem do setor privado”, ressaltou Sicsú. O que ocorre, explicou, é que quando o BNDES desembolsa recursos para investimentos, isso estimula toda a economia. “Estimula, inclusive, o financiamento de longo prazo pelo setor privado, seja através de debêntures ou de emissões primárias na Bolsa de Valores.”

Sicsú disse ser errada a avaliação de que, quando o BNDES financia mais, o setor privado financia menos. “Na verdade, o que acontece é que quanto mais o BNDES financia, mais ele estimula as demandas empresariais por financiamentos, públicos e privados”. Na medida em que o banco oferece linhas de crédito com taxas de juros aceitáveis, o setor privado financeiro também aumenta a sua participação no financiamento do investimento. Segundo o economista, isso tem ocorrido nos últimos anos.

De acordo com o relatório do BNDES, nos últimos 12 meses, completados em julho, os desembolsos atingiram R$ 140,2 bilhões. Em julho, as liberações somaram R$ 13,6 bilhões, com alta de 1,6% ante igual mês do ano passado.

A área de infraestrutura recebeu R$ 28,8 bilhões entre janeiro e julho deste ano, o que garantiu participação de 42% do total liberado. “É relevante. Não que a gente queira que a indústria caia. Ao contrário. Mas, preferencialmente, (os desembolsos têm ido para) a infraestrutura, pelos gargalos que ainda existem, pela relevância desses investimentos, como forma de garantir, no futuro, que a indústria também tenha base para crescer”, disse Visconti.

Para a indústria, cuja participação foi 32% dos recursos totais, foram desembolsados R$ 22 bilhões, enquanto a área de comércio e serviços recebeu R$ 12,7 bilhões e agropecuária ficou com R$ 5,7 bilhões.

Edição: João Carlos Rodrigues