Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Para criticar as remoções forçadas e a falta de transparência nas obras para a Copa do Mundo de 2014, movimentos sociais organizam um protesto que deve ocorrer paralelamente ao sorteio das eliminatórias do Mundial, marcado para o próximo sábado (30), no Rio. A intenção é mobilizar 2 mil pessoas para a manifestação. O grupo fará uma caminhada até a sede do evento promovido pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), na Marina da Glória, no centro. A concentração está prevista para as 10h no Largo do Machado.
O protesto é organizado pelo Comitê Social da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos que aproveita o primeiro grande evento antes do Mundial para chamar a atenção da imprensa internacional. "A nossa questão não é o evento em si, mas os problemas que está trazendo para quem mora aqui, principalmente para quem é pobre e será removido", afirmou Marcelo Braga Edmundo, coordenador da Central de Movimentos Populares e um dos organizadores da manifestação.
Segundo dados do comitê social e da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais (Dhesca), mais de 20 mil pessoas de oito comunidades terão que ser desalojadas para obras até as Olimpíadas. "A maioria, na zona oeste, na Barra da Tijuca - epicentro dos Jogos - ou no entorno das vias expressas que serão abertas para os estádios do Engenhão e Maracanã e a Transcarioca [ligando o aeroporto internacional à zona oeste]", disse Marcelo Edmundo.
O Ministério Público Estadual questiona os procedimento de remoção, "em total desacordo com as leis e com a Constituição", segundo o subprocurador Leonardo Chaves, e avalia medidas judiciais contra a prefeitura. O subprocurador, que colheu relato de habitantes em várias comunidades, destaca que a Secretaria de Habitação Municipal não ofereceu alternativa de moradia ou indenização suficiente nas comunidades despejadas na Vila Harmonia, Restinga e no Recreio 2, na zona oeste, por exemplo.
"A prefeitura não está pagando as indenizações e os aluguéis sociais. Quando o faz, é em valor irrisório e por pouco tempo. As pessoas não conseguem comprar ou alugar casas, já que, com até R$ 400, têm dificuldades de arrumar fiador", afirmou o subprocurador. "Famílias não conseguirão se instalar em bairros estruturados e os efeitos nefastos dessa política serão sentidos ao longo do tempo, com mais comunidades em áreas de risco, por exemplo", advertiu.
Integrante do Comitê Social da Copa, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Vainer também questiona os custos com as obras do Mundial. Segundo ele, só a reforma do Maracanã, que passou por recentes reparos nos Jogos Pan-Americanos, há quatro anos, teve o valor inicial triplicado. Para ele, falta transparência com os gastos públicos. "A situação é realmente grave. O processo todo é marcado por absoluta falta de informação, transparência, impossibilitando qualquer tipo de controle social ou público", afirmou Vainer.
O Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014, que prepara uma grande festa para o sorteio das eliminatórias, no sábado, com as 166 seleções participantes do Mundial e a presença de vários artistas, não retornou às insistentes tentativas de contato da Agência Brasil.
O secretário de Habitação do município, Jorge Bittar, confirma que houve problemas na remoção das comunidades da zona oeste, mas ressaltou que já foram resolvidos. Segundo ele, todas famílias desalojadas recebem aluguel social ou indenizações pelos imóveis, que, em muitos casos, são superiores ao valor de mercado.
"Ninguém gosta de ser reassentado. A pessoa pergunta: 'Logo a minha casa?' Mas a vida é assim", disse Bittar, sem descartar que pode haver interesses ideológicos e partidários por trás das críticas.
Edição: Lílian Beraldo//A matéria foi ampliada às 18h27