Moradores da Vila Estrutural participam de projeto para reconstrução e valorização da memória da comunidade

09/04/2011 - 18h06

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Mais uma etapa do Programa Ponto de Memória, do Ministério da Cultura, foi realizada hoje (9) na Vila Estrutural, região a 20 quilômetros do centro de Brasília. A iniciativa busca reconstruir a memória social e coletiva de comunidades, a partir do cidadão, de suas origens, suas histórias e seus valores. Além da Vila Estrutural, o programa atende mais 11 comunidades do país. 

Maria Abadia Teixeira de Jesus, costureira, alfabetizadora e militante do Movimento de Mulheres na Vila Estrutural participou hoje do curso Oficina de Acervo. Para ela, o projeto é importante pela valorização da história local e das pessoas que fundaram a cidade. "Nós estamos sendo preparados para entender como se aproximar das pessoas e falar sobre a nossa comunidade. Para construirmos a história que a gente quer que seja contada sobre a Estrutural”, disse.

Agora, o objetivo é envolver o maior número possível de pessoas da comunidade no programa, incluindo os jovens, que serão responsáveis por transmitir a história do lugar às gerações futuras. Além disso, explica Maria Abadia, existe a necessidade de retirar os jovens da inércia para que eles possam retornar à história dos pais e procurar encontrar formas de lutar por uma vida melhor para si e para a sociedade.

Desde 2008, a Vila Estrutural tem recebido profissionais do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), ligado ao Ministério da Cultura, para preparar a comunidade para desenvolver o projeto, segundo Maria Abadia. Uma das oficinas, por exemplo, chamada de “O que é memória”, foi dirigida pelo professor Mário Chagas, museólogo e doutor em ciências sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

No dia 21 de maio, quando será realizada a 4ª Semana Nacional de Museus, haverá uma exposição dos processos que já foram implementados na comunidade. “A gente ainda não sabe como irá ficar, o nome, essas coisas, mas deverá ser um museu porque terá histórias e objetos, coisas guardadas. Não temos nada definido. Por enquanto, estamos na fase do desenvolvimento do projeto, que deve ser concluído em 2011”, disse.

Por enquanto, as reuniões na Vila Estrutural estão sendo realizadas no espaço conhecido como Casa dos Movimentos, utilizado por diversos grupos para discutir projetos e problemas da comunidade. A comunidade articula com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal um espaço comunitário próprio para o projeto Ponto de Memória.

Responsável pela oficina realizada hoje, a museóloga Mirela Leite de Araújo trabalha com questões como acervo e patrimônio, além de dar as orientações a respeito da montagem da exposição do dia 21 de maio sobre o Ponto de Memória e a história da Estrutural.

“Estamos discutindo qual o tipo de memória, como o acervo pode ser coletado e como fazer um inventário participativo. Além disso, o que é selecionado para uma exposição, quais as linguagens, os recursos da exposição e o público que vai participar.”

Para a historiadora e mestra em Memória Social, Inês Gouveia, que também foi à Vila Estrutural participar da oficina, o importante é fazer com que a iniciativa se torne um ponto de reflexão crítica sobre a memória local. Além disso, o projeto tem o intuito de ampliar a discussão com a comunidade para a constituição de museus comunitários. “Com isso, fazer registro e coleta desse acervo, material e imaterial, reportagens e histórias que os moradores transmitirão para guarda e exposições”, informou Inês Gouveia.

O morador da Vila Estrutural e conselheiro do Ponto de Memória da Vila Estrutural Adroaldo Dias Alencar destaca que o importante é que a história seja contada pelos moradores, sem distorções e sem rótulos que depreciem a comunidade.

De acordo com informações da Administração Regional do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento do Distrito Federal, a Vila Estrutural ocupa uma área de 154 hectares. Conhecido antigamente como “Lixão da Estrutural”, o local começou a ser ocupado na década de 60, após a inauguração de Brasília. Na época, muitos catadores de lixo iam para região e contruíam seus barracos. Hoje, cerca de 35 mil pessoas vivem na região.

 

Edição: Lílian Beraldo