Brasil recua e reconhece que França não quer controlar preços dos alimentos

07/04/2011 - 17h27

Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Depois de criticar com veemência a ideia do governo francês de regulação do mercado agrícola mundial, defendida pelo presidente Nicolas Sarkozy na última reunião do G-20 (que reúne as 20 maiores economias do mundo), o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, reconheceu hoje (7) que houve um mal-entendido na interpretação do goveno brasileiro. O ministro garantiu que a França "é completamente contrária ao controle de preços”.

Após se reunir com o ministro da Agricultura da França, Bruno Le Maire, Rossi disse que a proposta francesa busca “segurança alimentar e maior equilíbrio de preços e suprimentos agrícolas”. E ressaltou a importância do país neste contexto: “O Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo e isso traz responsabilidades”.

Le Maire, que se disse muito impressionado com o sucesso da agricultura brasileira, disse que fez questão de vir ao Brasil para desfazer o mal-entendido e buscar um consenso para o grande encontro de ministros de agricultura do G20 (grupo que reúne as maiores economias do planeta, incluindo as emergentes), nos dias 22 e 23 de junho, em Paris. Segundo ele, na reunião, as propostas francesas serão apresentadas ao mundo “de forma objetiva”. Antes, o ministro disse que visitará Estados Unidos e China para buscar mais apoio.

O ministro francês disse ainda que, de forma geral, a ideia de regulação se baseia em quatro pontos: mais transparência nos estoques mundiais de alimentos, tendo o Brasil como exemplo; mais cooperação entre os membros do G20 para combater as crises mais rapidamente; apoio aos países mais pobres, para que desenvolvam a agricultura e se preparem para as crises; e regulação financeira sobre os mercados agrícolas, evitando capitais especulativos que se voltam cada vez mais para o setor agropecuário após a crise de 2008.

“A regulação do mercado financeiro é para que ele funcione melhor. A França se opõe a qualquer controle ou tabela de preços”, afirmou Le Maire. “Propomos uma melhor organização global na agricultura, que permita às grandes potências agrícolas continuar a se desenvolver, se protegendo das crises, evitando alta volatilidade de preços e apoiando os países mais pobres”.

Le Maire reforçou a tese do governo francês de que está se formando uma “bolha” no mercado agrícola. “Se não regularmos o mercado agrícola, acontecerá exatamente o mesmo que ocorreu com o mercado imobiliário”, disse ele ao comparar a situação das commodities agrícolas à dos imóveis que desencadearam a crise financeira de 2008.

Os dois ministros ressaltaram, no entanto, que o caminho mais eficiente para evitar esses problemas é aumentar a produção. “A produção insuficiente levará a revoltas populares em países pobres, como as que estão ocorrendo atualmente [no Norte da África]”, avaliou Le Maire. Ele disse que a inflação dos alimentos é um problema para todo o planeta e, na França, é sentida principalmente nos preços das massas, como macarrão e pão.

O ministro francês também deixou transparecer algumas questões ainda sem consenso entre os dois países, como exigências sanitárias, consideradas pelos brasileiros muito rígidas por parte da comunidade europeia, e o uso de organismos geneticamente modificados. Em relação aos alimentos transgênicos, Le Maire foi objetivo: “Brasil e União Europeia tomaram decisões diferentes. Temos que respeitá-las”.

Edição: Vinicius Doria