Movimento negro e associações reagem às declarações do deputado federal Jair Bolsonaro

30/03/2011 - 18h33

Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Representantes do movimento negro e associações que defendem a igualdade racial reagiram às declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Na última segunda-feira (28), o deputado disse em um programa de televisão que seus filhos não correm o risco de namorar uma mulher negra ou virarem gays, porque "foram muito bem-educados".

Ao ser indagado pela cantora Preta Gil sobre sua reação caso um de seus filhos se apaixonasse por uma negra, Bolsonaro respondeu: “Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja, eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”.

O parlamentar também se manifestou contra as cotas raciais, adotadas em várias universidades brasileiras. “Todos nós somos iguais perante a lei. Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista, nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.

Para a cantora brasilense e atuante do movimento negro, Elen Oléria, é preciso tomar medidas para evitar que fatos como esse se repitam, sem dar uma dimensão exagerada ao fato. “Essa não será a última vez que manifestações assim acontecem. Infelizmente essa tradição [racista] ainda mora em muitos lares brasileiros.”

“Estou enojado [com essas declarações]”, afirmou o membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Átila Roque. Segundo ele, Bolsonaro tornou-se figura caricata “pela quantidade de bobagens que fala”, no entanto, isso não é desculpa para deixá-lo sem uma punição exemplar.

Uma representação assinada por 20 deputados do P-SOL, PCdoB e PDT foi protocolada ontem, na Mesa Diretora da Câmara, pedindo que a Corregedoria da Casa investigue o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) pelos comentários feitos no programa de televisão. Na mesma representação, os deputados pedem também que ele seja destituído pelo seu partido, o PP, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

O Inesc, que promove um seminário sobre racismo hoje e amanhã na Universidade de Brasília, foi uma das primeiras entidades a assinar a representação. “Existe no Brasil uma série de dispositivos legais que claramente tipificam o racismo como crime. Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que ele seja punido de forma exemplar”, afirmou Roque.

De acordo com a socióloga e coordenadora da Organização Não Governamental Actionaid, Rosana Heringer, a lei de racismo no Brasil é de difícil aplicação. “Pouca gente foi condenada no Brasil até hoje. Mesmo não havendo uma punição na Justiça, acho que ele merece uma punição do ponto de vista simbólico e cultural, para pensar duas vezes antes de falar isso de novo.”

 

Edição: Rivadavia Severo