Especialistas questionam ampliação de aterro e cobram política de redução do lixo no Rio

20/03/2011 - 9h54

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Após o anúncio da transferência de parte do lixo produzido na capital fluminense para um aterro sanitário no município de Seropédica, na Baixada Fluminense, previsto para entrar em funcionamento no fim do mês, ambientalistas questionam a ampliação de outro aterro sanitário na cidade do Rio, o de Gericinó, no bairro de Bangu, na zona oeste.

Com a capacidade acima do limite, Gericinó recebe 3 mil toneladas das 9 mil toneladas de lixo produzidas na cidade (o restante vai para o aterro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias) e acumula uma pilha de lixo de cerca de 50 metros de altura. Por conta da sobrecarga, a unidade já teve problemas com o tratamento do chorume (líquido resultante da decomposição de resíduo).

O professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Adacto Ottoni acredita que a nova área em Gericinó dá mais flexibilidade para o descarte de lixo. Porém, destaca que a política de gestão de resíduos da prefeitura deveria se preocupar mais em reduzir a quantidade de lixo e aumentar a coleta seletiva - que é de 1% do total - do que buscar novas áreas para despejar resíduos.

"O problema mais grave não é onde a cidade vai jogar o resíduo, mas o que vai fazer com esse resíduo. É lamentável descarregar 9 mil toneladas de lixo no meio ambiente", criticou.

"A meta de reciclar 20% de lixo até 2020 é muito baixa. Temos que reduzir nosso lixo se quisermos aumentar a vida útil dos aterros", completou, lembrando que a unidade de Seropédica, construída acima do Aquífero Piranema, tem vida útil de 20 anos.

Contra a ampliação de Gericinó, o ambientalista Sérgio Ricardo também cobra uma política de de reciclagem e de aproveitamento do material orgânico, que diminuiria a quantidade de material a ser aterrado. Além disso, defende a implantação de usinas de tratamento energético do lixo em vez de aterros, que seriam a alternativa mais viável do ponto de vista econômico e ambiental.

"Não é verdade que as usinas sejam mais caras. É um investimento que se paga em até cinco anos e ainda pode gerar receita para o município com a venda de créditos de carbono", afirmou. Os aterros sanitários, explica, geram despesas com os custos de descarte (R$ 80 por tonelada), com o transporte, além dos danos ambientais com a a emissão de gases de efeito estufa.

Para cobrar mais esclarecimentos sobre a necessidade da obra em Gericinó, a Secretaria Estadual do Ambiente cancelou uma audiência pública prevista para a última quinta-feira (17). A reunião discutiria com a sociedade a concessão da licença ambiental para ampliação do aterro em Bangu.

Procurada para esclarecer sobre o projeto de Gericinó e comentar as sugestões dos especialistas, a Secretaria Municipal do Ambiente não respondeu à Agência Brasil.

Edição: Juliana Andrade