Ex-presidente de Moçambique elogia atual relação do Brasil com a África

20/11/2010 - 13h44

 

 

Eduardo Castro

Correspondente da EBC na África

Maputo – Já não era sem tempo. Para o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano, a valorização que o Brasil fez nos últimos anos com relação à África demorou a acontecer. “Eu era muito crítico do Brasil quando ele, como se diz na gíria, 'não ligava a mínima' para a África”, afirmou. “Isso mesmo sendo o país mais africano depois da África. Mas, ultimamente, de uns anos pra cá, estou satisfeito pela valorização dessa história e dessa ligação”, completou.
 

Chissano dirigiu o governo de transição que vigorou em Moçambique entre o acordo de independência com Portugal (assinado em 7 de setembro de 1974) e a passagem do poder para os moçambicanos (em 25 de junho de 1975). Ele acha que por muito tempo os africanos também não se interessavam pelo Brasil. Mas, aqui, isso foi revertido antes. “Começamos a ver mais interesse, demonstrado pelo número de embaixadas africanas no Brasil. Que agora traz muitas embaixadas brasileiras para a África. O tratamento na sociedade melhorou bastante”, disse.
 

Para Chissano, a integração dos negros na sociedade brasileira é um processo ainda incompleto. “O relacionamento entre os brasileiros de origem caracteristicamente africanas e outros brasileiros precisa ser melhorado. Eu já disse isso em público lá e continuo a dizer, para dar apoio a este processo, que me agrada e está indo. Mas é bom que a gente diga a verdade, para que as coisas melhorem”.
 

Primeiro ministro de Negócios Estrangeiros de Moçambique e seu segundo presidente, empossado depois da morte em uma acidente de avião do então presidente Samora Machel, em 1986, Chissano diz não se lembrar de negros representando o Brasil nos fóruns internacionais.“Não sei se de cinco anos pra cá mudou, mas não me lembro de um embaixador negro brasileiro, por exemplo. Na diplomacia brasileira é raro ver os negros, enquanto que, para os norte-americanos, onde também havia escravatura e discriminação, a coisa mudou já há vários tempos.”

Chissano sentiu o racismo na pele, ao ser o primeiro negro a se matricular no Liceu Salazar de Maputo (atual Escola Secundária Josina Machel), em 1951. Para ele, as portas no Brasil estão sendo abertas para a integração racial. “É um processo. Não estou a pensar em estardalhaços. Digo isso porque, uma vez eu estava a visitar o Brasil, e um grupo de negros me dizia 'ah, mas o senhor devia nos dizer como e que vocês fizeram a luta contra os portugueses'. E eu disse: 'nada disso no Brasil. Não necessitam disso. Aqui vocês são todos brasileiros, e devem dialogar e puxar para promoção de um lado ou do outro. Nada de guerrilhas', afirmou. “No Brasil há todas condições. Simplesmente é preciso que as consciências subam um pouco mais, se deem conta do que se passa”, completou Chissano.

 

Edição: Aécio Amado