Para Reis Velloso, futuro presidente deve se preocupar com a reforma política

17/10/2010 - 17h33

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Na opinião do economista João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento por dez anos (1969-1979), o próximo presidente deve retomar urgentemente a agenda de reformas, em especial a reforma política. “Para poder ter taxas de crescimento maior temos que aproveitar oportunidades, para aproveitar oportunidades nós temos que fazer as reformas necessárias”, avalia.

Reis Velloso foi ministro a época da ditadura militar (1964-1985), durante os governos dos generais Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, e estava no poder durante o “milagre brasileiro” e as crises do petróleo em 1973 e em 1979. Daquele tempo, o economista faz uma autocrítica: “nos anos 1970, o nosso concorrente era a Coreia do Sul. A Coreia hoje está quilômetros a nossa frente porque fez reformas que nós não fizemos, porque tomou decisões e fez opções que nós não fizemos”.

Atualmente Reis Velloso, com 79 anos, participa do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão” ligado à Presidência da República e coordena na Fundação Getulio Vargas, o prestigiado Fórum Nacional, que reúne os principais economistas do país e do exterior e que costuma ser aberto pelo presidente da República. O ex-ministro deu a seguinte entrevista à Agência Brasil sobre o que espera do futuro presidente da República.

Agência Brasil – Qual deve ser a agenda do próximo presidente da República?
João Paulo dos Reis Velloso - Ele vai ter que se preocupar com a questão política. O maior problema do Brasil não é econômico, é político. Nós temos que fazer a modernização do sistema de partidos políticos e temos que fazer a modernização do Congresso Nacional. Além disso, o próprio Executivo tem que ter uma espécie de reforma administrativa porque a Constituição de 1988 praticamente extinguiu a reforma feita em 1967 quando a estrutura era mais descentralizada e menor.

ABr - Fazer reforma política é mexer no status quo. O senhor acha que o próximo presidente consegue isso?
Reis Velloso - Ou faz isso ou o Brasil vai ficar um país emergente durante três séculos. Se não fizer grandes reformas, o país vai continuar subdesenvolvido, ou em desenvolvimento, ou emergente, como você quiser chamar. Tudo significa a mesma coisa: não desenvolvido.

ABr – E a reforma tributária? Por que os diferentes governos eleitos não conseguiram fazer de fato?
Reis Velloso - Porque não quiseram. Repito: porque não quiseram. Tem de haver mobilização, a sociedade tem que se manifestar. Tem que ser ativa para cobrar todas essas coisas de que nós estamos falando.

ABr – O próximo governo vai fazer ajuste fiscal?
Reis Velloso – Não tem como fugir disso. Tem que fazer o ajuste fiscal maior porque do contrário nós não vamos conseguir fazer o investimento que temos que fazer. O Brasil vem de épocas que o investimento representava 15%, 20% da despesa. Hoje é 5%. Quer dizer, há realmente toda uma agenda de reformas. Tudo isso é difícil, não vamos subestimar, mas é imprescindível. Nos anos 1970, o nosso concorrente era a Coreia do Sul. A Coreia hoje está quilômetros à nossa frente porque fez reformas que nós não fizemos, porque tomou decisões e fez opções que nós não fizemos.

ABr – O nosso concorrente direto agora é o Chile?
Reis Velloso – Não é propriamente concorrente porque o Chile não tem o desenvolvimento tecnológico que a Coreia tem. Há um mundo de oportunidades a aproveitar. Não há país no mundo que tenha tantas oportunidades. Isso foi dito pela revista The Economist: 'é injusto que hajam tantas oportunidades no Brasil'. Mas se nós não fizermos as reformas, não vai ter aproveitamento de oportunidades.

ABr –  E quanto à China?
Reis Velloso – A China dormiu durante 2.500 anos, mas acordou, como previa Napoleão. Ele já tinha previsto: deixe a China dormir, porque quando ela acordar... A China está crescendo hoje como nós crescíamos no começo dos anos 1970. Nós desconstruímos aquele know-how de crescimento que tínhamos e estamos tentando recuperar. Nós não podemos nos satisfazer com 5%. Isso não é taxa de crescimento aceitável para o Brasil. Mas é a tal coisa, para poder ter taxas de crescimento maior temos que aproveitar oportunidades, para aproveitar oportunidades nós temos que fazer as reformas necessárias.
 

 

Edição: Rivadavia Severo